terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Verdadeiro Feliz Natal*



Para os cristãos o Natal simboliza esperança. Em meio a um mundo caótico dominado por injustiças, tal expectativa regozija corações aflitos sedentos por uma presença edificante, expressa no nascimento de Jesus Cristo, o menino-Deus encarnado no meio de nós; aquele que veio para nos salvar.

Este período é marcado por simbologias que realçam o importante significado da festa. Decorações exorbitantes, mesas fartas e presentes caros conferem ao Natal status de glamour. Famílias economizam verba durante todo o ano para celebrar o Natal de maneira farta, independentemente da situação financeira. No entanto, qual será o pensamento que faz com que as pessoas anseiem por uma comemoração repleta de excessos? Ao que parece, levamos ao pé da letra a ideia de que Cristo renascerá e, portanto, desejamos recebê-lo da forma como um Rei merece, revestindo-O com os mais finos regalos.

Há uma série de equívocos por parte dos cristãos à medida que reduzem a figura divina à comercialização. Independente de qualquer crença, o transcendente ultrapassa os limites do cartão de crédito. Bom seria se celebrássemos o Natal considerando a simplicidade que o envolve. Desde seu nascimento em uma singela manjedoura, Cristo ostenta uma missão pedagógica: alertou-nos para a pobreza de espírito.

Em vez de celebrar o Natal por meio de exagerados adereços e desperdícios desnecessários, poderíamos aprender a valorizar a simplicidade dos momentos. Mais válido seria se nos atentássemos à singeleza e doçura dos pequenos gestos. Às vezes, um simples Feliz Natal acrescentado de um abraço vale muito mais do que qualquer presente caro ou mesa farta.

As tradicionais celebrações religiosas de Natal também poderiam se despojar de toda a riqueza que as envolvem e se colocaram ao patamar da simples manjedoura, que estava longe de possuir ornamentos talhados a ouro.

O Natal deve ser celebrado em sua verdadeira essência, de forma simples, porém rica em significados e espiritualidade revigoradora. Que não sejamos abduzidos por apelos comerciais que tendem a estimular concorrências e a gerar desigualdades. Talvez assim possamos pronunciar de forma verdadeira e íntegra a expressão “Feliz Natal”, que carregada nas entrelinhas traços humanos e significados divinos.


*Artigo de minha autoria publicado no dia 21/12/2010 no jornal Folha da Região

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O tempo e suas loucuras. De como escrevo versos no livro da vida




Para meu desespero, percebi que o tempo passa rápido demais. O pior de tudo é que não podemos contê-lo. À medida que age, não há meios de segurá-lo. Pará-lo é impossível. Torná-lo mais vagaroso então, é utopia. Conforme passa, vem a inevitável ação sobre nós, homens. O transcorrer do tempo nos força a mudar de fase, o que inevitavelmente gera apreensão, angústia, medo. No entanto, por sermos condicionados a progredir, precisamos nos adaptar às agruras do tempo e aceitá-las. Cabe-nos, portanto, escrever primorosos versos no livro da vida.

Confesso que toda essa loucura me aflige. Olho para as pessoas a meu redor e vejo os estigmas produzidos pelo tempo. Mas, o mais perturbador: tenho espelhos em casa. Espelhos são como mediadores entre nós e a realidade. Ao olharmos, constatamos que o tempo também incide sobre nós. Seres humanos que somos, sofremos. Vivo, logo sofro. Porém, às vezes é tão fácil conter sofrimentos... Mas gostamos de sofrer; é inerente ao homem transformar goteiras em tempestades.

Chego ao final de mais uma fase. O medo de não sei o que é inevitável. Tenho medo, precisamente pela existência da expressão “não sei o que”. Nunca gostei de incertezas e muito menos de mudanças bruscas. Mas uma coisa eu sei: fiz tudo direitinho. No decorrer destes quatro anos de faculdade de jornalismo, passei por intensos processos de transformação (o tempo proporcionou alguns deles).

Dentre minhas várias manias, tenho uma em especial: demoro a pegar no sono. Enquanto ele não vem, fico matutando, matutando e matutando. Matuto sobre minha vida, sobre a vida dos outros, sobre a vida em si. Os minutos antes de dormir são aqueles nos quais posso arrancar as máscaras e ser eu mesmo. É meu momento. Um dos únicos em que tenho o privilégio de encontrar a mim mesmo.

Voltando a história da mania (me empolgo quando escrevo), a principal dela consiste no fato de fazer balanços gerais sobre minha existência. De uns tempos para cá isso tem se tornado frequente, talvez seja pelo momento de transição, enfim. Quem sou eu, o que fiz até o momento, a que vim, etc, etc, etc, são pensamentos envoltos nestas filosofias precedentes do sono. É meu momento de olhar para trás e ver que o tempo passou. É a hora em que vejo de longe o garoto assustado que outrora pisou pela primeira vez em um mundo diferente do que conhecia. É a vez de pensar sobre as pessoas que passaram pela vida deste garoto e depositaram algo de bom. Enfim, é o momento propício para agradecer a Deus e ao universo por ter vivido e chegado até aqui.

Aconselho a todos que tirem um tempinho pra pensar sobre a vida. Tais pensamentos cessam, pelo menos um pouco, a aflição gerada pela passagem do tempo. Inevitável que é, garante-nos a possibilidade de aproveitá-la ao máximo, plantando sementes que se tornarão suculentos frutos. Colhê-los é opção nossa; deixá-los apodrecer, também. Penso que tenho colhido os meus... Afinal, sempre fui um idealista... Talvez seja esta minha principal fraqueza: acreditar demais. Ou talvez seja qualidade, sei lá... Só sei que penso, logo escrevo e logo sofro...

Continuarei assim. Estou virando as páginas do livro de minha história consciente de que o autor principal sou eu mesmo. Novas conquistas estão por vir! Sejam bem vidas! Chegar até aqui foi uma grande vitória. Aprendi muito.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pedro Almodóvar e sua Má Educação



Sou grande admirador do cinema não convencional, traduzido aqui como filmes produzidos fora de Hollywood. De uns tempos para cá tenho ignorado os blockbusters carregados de shows de imagens e fenômenos de bilheteria. Tenho escolhido obras mais reflexivas, não me importando muito, é claro, com qualidade técnica.

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar é um de meus favoritos. Descobri o diretor por meio do filme “Carne Trêmula” e, a partir deste, passei a buscar outras produções conduzidas por ele. O que mais me atrai é o exagero temático de suas obras, que beiram ao absurdo. No entanto, paradoxalmente, a maior parte dos filmes retrata as mazelas da condição humana, que são acompanhadas, ironicamente, de um colorido intenso e enjoativo.

O filme mais recente, isto é, o último a que assisti, é “Má Educação” (La Mala Educación). Diferentemente da maioria de suas obras, nesta o diretor mergulha a fundo no universo masculino. Os críticos consideram este o filme mais pessoal da carreira de Almodóvar, no qual o cineasta expressa sua paixão pelo cinema.

Ignácio Rodriguez (Gael Garcia Bernal) é um diretor de cinema ávido por encontrar um enredo cativante para sua nova produção. Quando criança, Ignácio foi educado em um colégio de padres não tão santos como deveriam de ser (é comum Almodóvar tecer críticas à Igreja Católica). Além de sua paixão pela música e pela arte, Ignácio sentia-se atraído pelo colega de classe Enrique Serrano (Felez Martinez); esta inocente paixão infantil despertava a fúria do diretor da escola, Padre Manolo, que mantinha obsessivo interesse por Ignácio.

Estas histórias de amores passados fazem com que Enrique Serrano, agora ator, retorne à vida de Ignácio, propondo um roteiro para a nova produção do diretor. Entretanto, o roteiro expressava a realidade vivida pelos protagonistas enquanto jovens e, muito mais do que isso, desencadeava revelações alarmantes. Como é normal nas obras de Almodóvar, nem todos são o que aparentam ser.

As cálidas cenas entre homossexuais, travestis e o diabo a quatro servem apenas para polemizar o filme, artimanha inteligente utilizada para atrair o público e a crítica. E deu certo. A cena da piscina é considerada uma das melhores sacadas do cinema mundial.

O filme possui enredo não-linear, o que leva o espectador a confundir (ou relacionar) ficção e realidade. É uma verdadeira homenagem de Almodóvar ao cinema noir, no qual surgem descobertas inimagináveis advindas de um passado sombrio. Há um filme sendo produzido dentro do próprio filme e, a partir daí, aparecem revelações surpreendentes, no melhor estilo polêmico de Almodóvar. É uma obra para se assistir de olhos bem abertos, afinal, todos usamos máscaras.

domingo, 14 de novembro de 2010

De Volta... De como superei barreiras...

Cansei da frieza e padronização dos textos acadêmicos. A corrida contra o tempo com o intuito de respeitar a burocratização que nos obrigava a respeitar prazos, me impedia de fazer coisas que me dão prazer. Atualizar este espaço, por exemplo, é algo que há muito tempo não faço. Aqui a única cancela pela qual meus textos devem passar sou eu mesmo. Portanto, posso usar e abusar do jogo de palavras que, conforme são exteriorizadas, refletem sentimentos enraizados. Aqui sou o único gatekeeper. Apenas eu seleciono o que produzo e publico. Portanto, nada me impede de expor com pinceladas carregadas tudo o que sinto. Nada me impede de errar, repetir ideias. Nada. Quem quiser ler, que o faça e comente.

Os últimos dias foram extremamente conturbados. Quase surtei. Estava convicto de que todos os meus sonhos iriam por água abaixo. Parecia que o universo conspirava contra. Mas, como diz um certo jargão, a vida é uma escola. As conturbações auxiliaram-me a confiar nas capacidades de cada integrante de meu grupo de TCC, comprovando a verdade de outro senso comum que diz “A união faz a força”. Resultado: deu tudo certo. O trabalho foi concluído e, sem falsa modéstia, ficou muito bom. Estamos aguardando apenas a apresentação à banca.

A vida sempre me ensinou que perante o caos o melhor a fazer é manter a calma. Foi o que fiz desde o princípio. Certo de que desesperos não nos levariam a nada, jamais aparentei nervosismos (na verdade, revelo uma coisa: costumo guardá-los para mim e liberá-los de outras formas, sem magoar muitas pessoas...).

Depois de tudo isso, posso afirmar que me sinto mais maduro, dono de mim. É apenas o começo de uma nova etapa, mas o que vivi junto a meus amigos já serviria de enredo para um grande best seller. Já somos vitoriosos! Outras conquistas estão por vir. O TCC foi apenas um singelo começo.

No decorrer de todo o processo, vi despertar uma nova paixão. A certeza de que é possível transformar as pessoas tem me perseguido (e atormentado, no melhor sentido do termo). Isto me incita a pesquisar descobertas em futuros estudos... Vamos em frente!

DILMA ROUSSEFF, uma das pessoas mais PODEROSAS do mundo








O texto abaixo é de autoria de um grande amigo (detalhe: não o conheço pessoalmente, mas a literatura e o saber nos torna próximos), Rômulo Gomes. Ele é do Nordeste e, como não poderia deixar de ser, extremamente sábio. confira o que ele diz sobre a candidatura de Dilma!



Por Rômulo Gomes*

A nova presidentA (com ênfase no feminino) do Brasil, Dilma Rousseff, entrou recentemente, para a lista das pessoas mais poderosas do mundo, segundo o ranking da conceituada revista norte-americana Forbes. A mais recente ingressa na política brasileira, é considerada pela imprensa internacional como uma “ex-guerrilheira”, que lutou contra a ditadura militar em seu país e hoje, ocupa o 16° lugar na lista, estando à frente de pessoas internacionalmente conhecidas como é o caso do presidente da França Nicolas Sarkosy (que ocupa o 19°) e do fundador da Aplee, Steve Jobs (17°). Ainda, uma matéria no jornal The Independent publicada logo após a eleição tece elogios a nossa presidenta em uma longa reportagem e a compara com chanceler da Alemanha Angela Merkel e com a secretária de estado dos EUA, Hillary Clinton, mulheres de destaque na política mundial.

Vale destacar que independentemente de partidos e coligações, escândalos e outros, a vitória de Dilma representa um avanço para a política nacional. Um olhar diferente, uma nova face, pois historicamente a mulher em nosso país é vista como aquela que está à sombra do homem, aquela que só sabe e deve cuidar dos afazeres domésticos, preparar os filhos para a escola e esquentar a janta para o marido quando chegar do trabalho. A presença de uma mulher em cargos de prestígio e destaque como é o caso do presidente da república significa dizer que MUDAMOS, que queremos coisa nova, que acreditamos que a mulher é tão capaz quanto o homem, que os tempos são outros, onde as oportunidades entre homens e mulheres estão cada vez mais próximas e somos avaliados por nossa competência e não pelo sexo.

Assim, a famosa e preconceituosa história de que mulher é o sexo frágil está cada vez mais em desuso, se extinguindo, fora de moda – e não podia ser diferente! Dilma vem consolidar o que muitos já sabiam e até temiam: A MULHER APRENDEU A CAMINHAR SOZINHA, e aprendeu tão bem que evoca respeito, admiração e estima para uns, enquanto para outros é motivo de inveja, medo e ameaça.

Contudo, estamos vivendo na era das mulheres, e não são quaisquer mulheres, a exemplo das três que expus aqui e da nova Governadora no nosso estado, a Senhora Rosalba Ciarlini. Todas essas são mulheres fortes, inteligentes, capazes, guerreiras, longe daquela imagem feminina de décadas atráz ou daquela da idade média onde eram submissas e maltratadas somente pelo fato de terem nascido mulher. As mulheres deste século estão cada vez mais preparadas para a vida moderna e seus desafios, são possuidoras de conhecimentos – e sabem disso, o que as tornam mais “poderosas” ainda.

Hoje, ser mulher não é mais questão de subordinação, mas sim, força, vida, como diz a professora Margarete em um poema “A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisoteada, nem da cabeça para ser superior, mas sim, do lado para ser igual... debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada”.

Parece-me que a mulher moderna têm levado essa questão ao pé da letra, para desespero de muitos homens (RIZOS...).





*GRADUANDO DO 6° PERÍODO
DE LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA, UERN/CAPWSL.

sábado, 25 de setembro de 2010

Da capacidade de tecer o próprio mundo...




“Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
[...]Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.”



O trecho faz parte do primoroso conto de Marina Colasanti intitulado “A Moça Tecelã”. O texto, extremamente dotado de sensibilidade, apresenta uma jovem que costuma tecer exaustivamente. Ela tece, tece e tece. A máquina de tecer é sua única e mais fiel companhia. Eis que certo dia a moça descobre ser detentora de um dom muito especial: seus sonhos poderiam se tornar realidade por meio dos fios de sua máquina de tecer, isto a faz construir um mundo ideal a sua volta.

Ela tinha tudo. Porém, ao sentir-se dominada por uma desamparada solidão, resolve criar um marido, utilizando-se dos fios mais fortes, belos e nobres. Surgem muitos planos e sonhos. Ela idealiza uma vida perfeita ao lado do companheiro desenhado conforme seus ideais.

O homem, no entanto, ao perceber a habilidade da moça, cresceu em ambição, mal que o levou a trancafiá-la e exigir coisas absurdas. O tão desejado amor não mais existia. Tornou-se pesadelo.

Perspicaz, a moça decide desfazer-se de toda a riqueza inútil e do próprio companheiro que outrora criara por meio de seus fios. Ela destece tudo e reencontra a felicidade, escondida no canto dos pássaros durante a manhã, no balançar das árvores e em toda a simplicidade que a envolvia, mas que havia sido esquecida mediante a riqueza e a maldade do opressor.

O conto nos leva a refletir sobre questões tangíveis à condição humana. Muitas vezes construímos imagens ideais do mundo que nos cerca. Mas o que não percebemos é que aquilo que seria “ideal” nem sempre é o “certo”. Na qualidade de seres pensantes, temos o magnífico dom de tecer nosso próprio mundo. O tecemos a nossa maneira. Prescindimos, no entanto, do real valor significativo das pequenas coisas; esquecemos da simplicidade que gratuitamente embeleza cada instante.

A busca pelo sucesso nos leva a, incondicionalmente, buscar a perfeição. Ao exigirmos muito de nós mesmos passamos a ignorar o mundo que nos cerca. É válido reservar alguns instantes para destecer um mundo idealizado e passar a confrontar a realidade tal como ela é. Deixar, ao menos um pouco, de viver utopicamente pode ser válido e é um bom passo para a busca da tão almeja felicidade, aspirada por todo ser humano. Somos tecelões de nossa própria história. Saibamos selecionar fios nobres e consistentes. A escolha é nossa...

domingo, 19 de setembro de 2010

Me apaixonei por Clarice Lispector. Ela apareceu meio que por acaso em um momento de minha vida no qual suas palavras agiram terapeuticamente. Mulher de garra, mulher sensível, mulher batalhadora. Mulher. Simplesmente mulher. Cada palavra sua tem a capacidade de tocar profundamente no coração. Ela consegue limpar as impurezas que surgem e afligem este músculo tão necessário a nossa existência.

Para Clarice, tudo é possível. Por meio de seus dizeres sublimes, uma tal Macabéa pôde acreditar em si mesma, mesmo após a barbárie, conquistando seu lugar... sua estrela.

Ao ler Clarice, penso que é possível tocar as estrelas do céu. Ela transmite confiança em mim mesmo. Ela consegue fazer germinar as sementes do bem que possuo em mim mesmo. Ela faz brotar de mim aquilo que tenho de melhor, e transmitir ao mundo meus mais genuínos sentimentos...

Dedico este espaço à Clarice: poetiza... Mulher...




Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.

Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.

Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.

Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.

Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

domingo, 12 de setembro de 2010

Primeiros Versos (3)

Este espaço se dedica ao relato de imagens observadas no cotidiano...



Lá estava ela sentada na varanda vendo a vida passar. Retratos do passado a atormentavam, ao mesmo tempo em que a faziam recordar bons momentos vividos. Realidade distante era o sorriso que carregava nos lábios. Sorriso farto, acolhedor, fraterno e compassivo. Tudo mudou... As gargalhadas deram lugar a um ar sombrio, cansado, lúgubre.
As imagens de outrora foram apagadas desde o momento daquela partida... Viver, então, tornou-se para aquela criatura apenas uma obrigação. Martírio. Como mais um corpo inerte fadado ao fracasso, costuma plantar a cada instante as sementes do desespero e da angústia. Há de colhê-los...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quem acompanha este espaço já deve ter percebido que sou um grande admirador da literatura. Sendo assim, gosto de compartilhar com meus leitores textos que leio e que geram em mim algum tipo de sentimento. Há pouco tempo, tive a oportunidade de conhecer um poeta potiguar de inteligência inigualável, como é de praxe ao povo daquela região. Ele escreve com o coração e, sobretudo, com a alma. É de autoria desse meu amigo os versos abaixo. Simples, singelo, belo e profundo... Escrever não é ofício para qualquer um; é preciso ter algo especial...


AMADO


Por Rômulo Gomes*




Quando a comida perder o sabor,
As cores desbotarem,
O doente não sentir dor e
Os raios do sol tão forte brilharem,
Não adianta se esconder,
Não adianta chorar,
Não adianta correr:
É só amar.






(*) Rômulo Gomes é um santanense apaixonado por literatura,
poesia. Está no 6° período do curso de Letras/Português – UERN/Assu
e trabalha atualmente como Vice-Diretor numa escola do município de Santana
do Matos (cidade da região central do estado do RN)

domingo, 5 de setembro de 2010

Tempos de Inocência...

Hoje resolvi me livrar das coisas supérfluas do passado. Nada melhor do que reservar um tempinho para remoer coisas antigas. Encontrei resquícios de um tempo bom no qual imperava a inocência de um jovem estudante sonhador. Textos, imagens, desenhos... Tudo revela os sonhos daquela criança que ficou para trás. É incrível notar como o pensamento e as ideias evoluem! Realmente a lei natural das coisas de fato existe. Jamais seremos hoje o que fomos ontem.

Ao vasculhar as páginas de um velho caderno percebi o início de minha vocação para a área de humanidades. Enquanto as atividades avaliativas de matemática oscilavam com notas satisfatórias apenas para se “passar de ano”, as referentes à português e literatura eram acompanhadas de imensos recados elogiosos de meus mestres... Penso que certas destrezas são dons inatos.

Como já disse Rubem Alves, “todo texto prazeroso conta uma mentira. Ele esconde as dores da gestação e do parto”. Era justamente isso que eu fazia no passado: inventava realidades; divulgava no papel aquilo que gostaria de viver e que as pessoas vivenciassem... Talvez fosse isso que me proporcionava tanto prazer pela arte de escreve: sonhar, descobrir mundos, dar possibilidades... Que bons foram os tempos de inocência... Mas tudo muda... Tudo passa...Nada será do jeito que já foi um dia...


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Foi dada a largada(*)

O Brasil é um país que se destaca por sua excentricidade. A população tupiniquim é estigmatizada mundo afora como acolhedora, risonha e completamente livre de preocupações. No entanto, tal imagem não passa de mera utopia. Como qualquer outra nação, o Brasil conta com algumas mazelas que o distancia cada vez mais do tão sonhado modelo de “nação perfeita” pregado por alguns quiméricos.

2010 vem sendo um ano atípico. A Copa do Mundo mostrou mais uma vez que o país do Carnaval não é o único que detém habilidades com a bola. Por outro lado, este evento mundial acentuou a ideia de que o ufanismo reina solto quando o que se está em jogo é um campeonato esportivo. Parece que conquistar o troféu, ou seja lá qual prêmio for, é uma questão de honra para o povo brasileiro. Esquece-se, entretanto, que incontáveis cifras é que estão realmente em jogo em ocasiões do gênero. E o que resta ao pobre trabalhador nacionalista: absolutamente nada. Pelo visto, o fato de pertencer ao país do futebol vale bem mais do que qualquer pecúnia.

Passado o turbilhão do mundial, chega o momento de mudar o foco e pensar em nossos representantes políticos nos próximos quatro anos (aliás, por que será que as eleições presidenciais sempre coincidem com a Copa do Mundo?!). Foi dado o apito inicial para o grande show de promessas exorbitantes, caridades sem precedentes e todas as outras raridades com as quais estamos acostumados a ver nossos candidatos desempenharem em ano eleitoral. A mídia nos bombardeia a cada instante, apresentando os feitos daqueles que aspiram ao poder. Entre contradições e ataques apresentados, cabe ao público o poder de digerir tudo o que é obrigado a engolir e ter o poder de discernir quais representantes merecem o voto em outubro. É necessário ter um bom estômago.

Infelizmente as ideologias opressoras dominam a “nação do futebol” desde sua colonização. A opressão, sinônimo de retrocesso, retira do povo a maior virtude que alguém pode deter: o conhecimento. A partir do momento em que o adquirimos, passamos a ser autores da própria história e dificilmente seremos corrompidos por argumentos falaciosos. Porém, os algozes do poder têm em mente os estragos que este bem maior pode ocasionar quando é propriedade de uma população.

É muito mais produtiva a permanência de uma massa amórfica incapacitada de discernir. Um povo que mal sabe qual é a função de um Deputado é mais fácil de corromper. No entanto, um novo jeito de fazer política é possível. Não se trata de uma visão fadada à utopia. Em meio ao turbilhão de promessas e argumentos, ainda existem políticos que possuem um olhar humano em prol da coletividade e agem com transparência, seriedade e ética, enxergando o povo como verdadeiros agentes transformadores. Tais raros candidatos precisam, mais do que nunca, vestir a armadura e aderir à batalha de argumentos, contrastando aqueles que consideram os brasileiros como seres incapazes. Ao povo, é necessário o poder de discernir “heróis” em meio a “vilões”. Foi dada a largada. O resultado da luta, somente em outubro.

(*) Texto de minha autoria publicado no dia 17/08/2010 no jornal Folha da Região, de Araçatuba.

domingo, 8 de agosto de 2010

Uma Canção...

Certas composições dispensam comentários... Dizer alguma coisa pode comprometer a beleza dos versos milimetricamente construídos por poetas, estes arquitetos da alma... É o caso de Nando Reis...





Pra Você Guardei o Amor
Nando Reis


Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar

Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Primeiros versos (2)...



Teu olhar é indecifrável para mim. Eu que sempre me gabei de ter o dom especial de ler as pessoas, encho-me de frustração cada vez que me deparo contigo... Sinto-me um mero leigo no que tange a sentimentos. Esvazio-me de mim mesmo quando estás a minha frente. Anulo-me enquanto pessoa e me torno um apaixonado fadado ao fracasso. Em momentos de fraqueza, pelo fato de não encontrar respostas a meus porquês, resta-me inundar-me em prantos. É o único meio de cessar meu pobre coração das fagulhas que o queima.

Ao ironizar o amor, pensei que ademais pudesse vir a ser vítima deste algoz. Percebo agora que até o mais forte e cruel dos seres está propício a sofrer com os golpes deste carrasco... Não é porque a gente quer... Isso acontece por acaso.

A partir do momento em que arranco de mim a tinta com a qual me pintaram os sentidos, cabe-me ater-me a outras coisas, mudar o foco de meus pensamentos, libertar-me de ti. No entanto, tu sempre vens atormentar-me. Até mesmo meus sonhos não estão livres de você...

Resta apenas respeitar o mandamento do senso comum que reza que as coisas têm o tempo certo de acontecer e o que tiver de ser, será? Se esta profecia for verdadeira, peço somente paciência e compaixão... Só quero uma resposta... Só quero um retorno a meu imenso amor...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Primeiros versos (1)...




No fundo do poço. Assim estava ela. Seu pensamento atinha-se unicamente a um objetivo: dar fim ao legado de sua miséria. A desgraça corroia-lhe cada milímetro de seu corpo. Não tinha mais vontade de nada. Outrora, era bem sucedida e amada. No entanto, tais regalias converteram-se em mero abandono. Jogada às traças. Humilhada. Ferida. Haveria uma nova chance para consertar um equívoco do passado?


Como pudera o sucesso que demandou inúmeros anos para ser conquistado desabar em apenas um deslize?! Nada mais tinha sentido. Tudo estava consumado. No entanto, a perda de dinheiro e status não a afligia tanto quanto a perda daquele a quem depositava todo o propósito de seu destino. Ela se deu conta de que o amor nada mais é do que um simples jogo de conveniências. Afundada em pensamentos de descrença, o único destino favorável a ela foi livrar-se dela mesma, um verdadeiro encargo para a sociedade...


Em um ímpeto de coragem decidiu cavar a própria sepultura. Subiu encima da mesa... Enrolou uma corda no pescoço, amarrando a mesma no teto... Por um minuto, recordou-se dos velhos tempos de infância, único período de sua estúpida vida no qual se sentira feliz. Infelizmente, pensava ela, a incrível máquina do tempo era mera utopia; os momentos bons eram apenas arquivos mortos em sua memória. Estavam apagados em algum tempo bastante remoto. Pensou em desistir do ato e dar a volta por cima; mas... um ato de coragem e bravura compensaria toda a inutilidade de seu ser... Pulou. Não restava mais nada... Findou um ciclo de amargura. Apagam-se as luzes...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O poder da verdade jornalística




Washington, 1972. Cinco homens invadem o edifício Watergate. Para os jornais, o fato parecia apenas mais uma matéria a ser estampada nas páginas destinadas às ocorrências policiais. No entanto, os aparentes “ladrões” se distinguiam dos demais: usavam terno e gravata. Esta característica despertou a atenção da equipe do jornal The Washington Post. Os jornalistas Carl Bernstein e Robert Woodward foram designados, dentre toda a equipe, para realizar a cobertura do misterioso caso.

Com o passar do tempo, o quebra-cabeça foi sendo montado milimetricamente. Até que, por meio de uma apuração que serve como referência para a prática jornalística, concluíram que a invasão estava relacionada a um esquema de corrupção e espionagem que forjaria a ascensão presidencial de Richard Nixon ao segundo mandato.

O episódio serviu de base para a produção do filme “Todos os homens do presidente” (All the presidents men), conduzido por Alan Pakula em 1976. O longa-metragem acompanhou todo o processo de apuração de Bernstein e Woodward, interpretados respectivamente por Dustin Hoffman e Robert Redford. O filme sobreviveu ao tempo, convertendo-se em um clássico que vale como uma verdadeira aula de jornalismo investigativo.

A parceria entre os profissionais deve ser considerada como uma das causas da bem sucedida cobertura. No início, por exemplo, nota-se que Bernstein detinha mais experiência profissional em detrimento de Woodward. No entanto, isto não coloca em xeque e união de ambos. A experiência de um auxilia o outro, visto que o objetivo era único: fazer com que o produto final (a notícia) fosse divulgado da melhor forma.

O foco do filme foi demonstrar os processos da investigação jornalística. O caso era extremamente obscuro, o que exigia dos jornalistas muita cautela; qualquer deslize resultaria em equívocos e informações distorcidas. A invasão a Watergate envolvia importantes segmentos do poder norte-americano; qualquer fonte que tivesse conhecimento dos fatos estava em risco. Os profissionais souberam preservar seus entrevistados, atendendo aos preceitos éticos que incidem sobre o sigilo das fontes.

À medida que as informações eram apuradas, passavam pelo crivo do exigente editor. Inúmeros textos foram vetados ou reduzidos, visto que a empresa jornalística prezava pela veracidade e consistência das informações. Esta preocupação com a transparência resultou em matérias emblemáticas, capazes de moldar o pensamento da população americana acerca de seus governantes.

O longa-metragem comprova que o jornalismo tem a possibilidade de transformar a realidade, arquitetando o pensamento de uma população, sem manipulá-la. No caso Watergate, em momento algum o The Washington Post revelou pontos de vista. As informações apuradas apenas foram transmitidas. Coube a sociedade americana concluir o que se passava por detrás das paredes da Casablanca, tendo como pano de fundo as descobertas propagadas pelo jornal.

Confira trailer do filme:







(*) Resenha originalmente produzida como atividade avaliativa da disciplina Jornalismo Especializado, ministrada pela jornalista Ayne Salviano, no sétimo semestre do curso de comunicação Social com habilitação em Jornalismo.

sábado, 12 de junho de 2010

Reflexões: Em Construção...




Conturbados. Assim têm sido meus dias de uns tempos para cá. Faculdade na reta final, trabalho... Enfim, diversos afazeres têm ocupado meu tempo de modo a me impossibilitar de atualizar este espaço que me proporciona tanto prazer. É de conhecimento geral que a maior paixão de um futuro jornalista é a possibilidade de se expressar de forma independente, sem o crivo das limitações impostas pelos editores. O blog é uma das poucas alternativas para se expressar livremente e fazer valer a hipótese de que jornalistas são escritores / pensadores.

Hoje me arrisco a escrever sobre um tema que me gera muitas indagações e revolta: a hipocrisia da sociedade e as contradições das relações cotidianas (males dos quais também sou vítima). Não é segredo para ninguém que absolutamente todas as pessoas utilizam máscaras nas vinte e quatro horas do dia. Não há mais espaço para a autenticidade. A não ser no momento escatológico, a maior parte das pessoas engana-se a si mesmas impondo realidades completamente arquitetadas, a fim de se adaptarem as convenções sociais. A autenticidade pode ter um preço caro...

Imagine só a anarquia que o mundo se transformaria se todos resolvessem arrancar as máscaras... O senso comum que me perdoe, mas cabeças iriam literalmente rolar. Porém, somente a transparência limitaria o teor patriarcal das relações humanas e as hierarquias pautadas nos ideais de opressão.

Indivíduos completamente autênticos são rotulados como loucos e a consequência desta tal “insanidade” é a reclusão, visto que se acredita que eles podem causar sérios danos à sociedade. Tal demagogia não está completamente equivocada. Se os loucos resolvessem arrancar as máscaras de toda a sociedade, ninguém ficaria imune.

Infelizmente não se pode mudar uma realidade enraizada. As pessoas já nascem com a maquiagem que as adaptarão a sobreviver no grande palco da vida. Como verdadeiros palhaços que “pintam o rosto para viver”, necessitamos criar personagens que se adaptem às exigências impostas por alguém (um ser desconhecido que começou tudo isso). E eis que o mundo vai gradualmente se transformando em um imenso circo imundo...

sábado, 13 de março de 2010

O corre-corre de todos os dias vem me corroendo! Do trabalho para a faculdade, da faculdade para casa. E, em casa, TCC... Isto vem me impossibilitando de fazer o que mais gosto: usar este espaço para extravasar meus devaneios...

No entanto, mediante às hecatombes com as quais nos deparamos diariamente, a arte poética tem capacidade ímpar de abrandar nossos corações e nos remeter a um mundo belo, aquém da realidade... Hoje cmpartilho com vocês o poema "DESEJO", de autoria do francês Victor Hugo, um de meus escritores favoritos. Abaixo do texto, disponibilizo o belo clipe do cantor Frejat inspirado no poema. Em breve estarei de volta!!!



DESEJO

Desejo primeiro que você ame, e que amando, também seja amado
E que se não for, seja breve em esquecer, e que esquecendo, não guarde mágoa
Desejo , pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.


Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis , e que pelo menos num deles você possa confiar sem
duvidar.

E porque a vida é assim,desejo ainda que você tenha inimigos,
Nem muitos, nem poucos , mas na medida exata,para que algumas vezes,
Você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles ,haja pelo menos um que seja justo , para que você não se
sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,mas não insubstituível.
E que nos maus momentos , quando não restar mais nada ,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco,porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você sendo jovem, não amadureça depressa demais, e que sendo maduro!
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor.
E é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a respeito deTudo,
Que existem oprimidas injustiçadas e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça um João-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja,
E acompanhe seu crescimento,
Para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.

E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente
E diga “isso é meu”, só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar...
Desejo por fim que você sendo homem, tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher, tenha um bom homem.

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja AMOR para recomeçar,
E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a te desejar.


VICTOR HUGO


AMOR PRA RECOMEÇAR - FREJAT


domingo, 28 de fevereiro de 2010

Casas que Emburrecem

No dia 7 de fevereiro, véspera de meu aniversário de 21 anos, recebi uma homenagem muito especial! A equipe de amigos do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) resolveu fazer um ofício divido para comemorar quatro momentos muito especiais: meu aniversário; aniversário de Fernando Escodeiro; Doutorado de Áurea Esteves e a formatura de Hugo Tizura. Ao final do emocionante momento celebrativo, resolveram nos presentear de uma forma bem peculiar: com poesia!

Nossa amiga Fernanada Guilabel recitou lindamente a crônica "Casas que emburrecem", do mestre Rubem Alves. Muita gente não conseguiu conter as lágrimas, inclusive eu! Nada melhor do que ser presenteado com poesia!!!

Compartilho com vocês o texto de Rubem Alves!



"O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!"

Quem disse foi o Riobaldo, com o que concordo e também digo amém. Pois eu estava rastreando uns camundongos burros criados pelo prof. Tsien e umas teorias do prof. Reuben Feuerstein (pronuncia-se fóier-stáin) no meio de uma mataria de idéias quando topei com um menino de sandálias havaianas na porta do aeroporto de Guarapuava que fez minha rastreação parar. O que ele me pedia era mais importante, pedia que eu lhe comprasse um salgadinho para ajudar. Parei, comprei, comi, perdi o rumo, deixei de rastrear os camundongos do prof. Tsien e as teorias do prof. Feuerstein, entrei por uma "digressão", meu pensamento excursionou ao sabor das minhas emoções - mas agora estou de volta, o faro de cão rastreador afinado de novo.

Pois o prof. Tsien, da Universidade de Princeton, se deu ao trabalho de criar camundongos mais burros que os domésticos. Se você se espanta com o fato de um cientista gastar tempo e dinheiro para produzir camundongos burros, desejo chamar a sua atenção para o fato de que a burrice é muito útil, do ponto de vista político e social. Aldous Huxley afirma que a estabilidade social do "Admirável Mundo Novo" se devia aos mecanismos psico-pedagógicos cujo objetivo era emburrecer as pessoas. A educação se presta aos mais variados fins. Pessoas inteligentes, que vivem pensando e tendo idéias diferentes, são perigosas. Ao contrário, a ordem político-social é melhor servida por pessoas que pensam sempre os mesmos pensamentos, isso é, pessoas emburrecidas. Porque ser burro é precisamente isso, pensar os mesmos pensamentos - ainda que sejam pensamentos grandiosos. Prova disso são as sociedades das abelhas e das formigas, notáveis por sua estabilidade e capacidade de sobrevivência.

Os camundongos burros do prof. Tsien, confrontados com situações problemáticas, eram sempre derrotados pelos camundongos domésticos. Mas o objetivo da pesquisa era inteligente. O prof. Tsien queria testar uma teoria: a de que, se os camundongos burros fossem colocados em situações interessantes, estimulantes, desafiadoras, a sua inteligência inferior construiria mecanismos que os tornariam inteligentes. Em outras palavras: limitações genéticas da inteligência podem ser compensadas pelos desafios do meio ambiente. Assim, ele colocou os camundongos burros em gaiolas que mais se pareciam com parques de diversão, dezenas de coisas a serem feitas, dezenas de situações a serem exploradas, dezenas de objetos curiosos. Como mesmo os burros têm curiosidade e gostam de fuçar, os camundongos começaram a agir. Depois de um certo período de tempo, colocados em situações idênticas juntamente com os camundongos domésticos, os camundongos burros tinham deixado de ser burros. Não ficavam de recuperação.

Não conheço a obra do prof. Feuerstein. Suas teorias sobre a inteligência me foram contadas. Fiquei fascinado. Desejo que ele esteja certo. Pois o que ele pensa está de acordo com as conclusões de laboratório do prof. Tsien. Feuerstein tem interesse especial em pessoas que, por fatores genéticos (síndrome de Down, por exemplo) ou ambientais (ambientes pobres econômica e culturalmente) tiveram suas inteligências prejudicadas. Diante de testes o seu desempenho é inferior ao de crianças "normais". Sua hipótese, testada e confirmada, é que, se tais pessoas forem colocadas em ambientes interessantes, desafiadores e variados, a sua inteligência inferior sofrerá uma transformação para melhor. A inteligência se alimenta de desafios. Diante de desafios ela cresce e floresce. Sem desafios ela murcha e encolhe. As inteligências privilegiadas podem também ficar emburrecidas pela falta de excitação e desafios.

Isso me fez dar um pulo dos camundongos do prof. Tsien, as teorias do prof. Feuerstein, para as casas onde moramos. Nossas casas são um dos muitos ambientes em que vivemos. Cada ambiente é um estímulo para a inteligência. (É difícil ser inteligente num elevador. No elevador só há uma coisa a se fazer: apertar um botão...) . E pensei que há casas que emburrecem e há casas onde a inteligência pode florescer.

Não adianta ser planejada por arquiteto, rica, decorada por profissionais, cheia de objetos de arte. Não sei se decoração é arte que se aprende em escola. Se a decoração se aprende em escola, pergunto se existe, no currículo, uma matéria com o título: "Decoração de emburrecer - decoração para provocar a inteligência"... Essa pergunta não é ociosa. Casas que emburrecem tornam as pessoas chatas. Criam o tédio. Imagino que muitos conflitos conjugais e separações se devem ao fato de que a casa, finamente decorada, emburrece os moradores. Lá os objetos não podem ser tocados. Tudo tem de estar em ordem, um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar. Orgulho da dona de casa, casa em ordem perfeita.

Acho que foi Jaspers que disse que ele não precisava viajar porque todas as coisas dignas de serem conhecidas estavam na sua casa. Jaspers viajava sem sair de casa. Mas há casas que são um tédio: lugar para dormir, tomar banho, comer, ver televisão. Se é isso que é a casa, então, depois de dormir, tomar banho, comer e ver televisão não há mais o que fazer na casa, e o remédio é sair de gaiola tão chata e ir para outros lugares onde coisas interessantes podem ser encontradas. Sugiro aos psicopedagogos que, ao lidarem com uma criança supostamente burrinha, investiguem a casa em que ela vive. O quarto mais fascinante do sobradão colonial do meu avô era o quarto do mistério, de entrada proibida, onde eram guardadas, numa desordem total, quinquilharias e inutilidades acumuladas durante um século. Ali a imaginação da gente corria solta. Já a sala de visitas, linda e decorada, era uma chatura. A criançada nunca ficava lá. Na sala de visitas a única coisa que me fascinava eram os vidros coloridos importados, lisos, através do qual a luz do sol se filtrava.

Na minha experiência, a inteligência começa nas mãos. As crianças não se satisfazem com o ver: elas querem pegar, virar, manipular, desmontar, montar. Um amante se satisfaria com o ato de ver o corpo da amada? Por que, então, a inteligência iria se satisfazer com o ato de ver as coisas? A função dos olhos é mostrar, para as mãos, o caminho das coisas a serem mexidas. Acho que uma casa deve estar cheia de objetos para serem mexidos. A casa, ela mesma, é para ser mexida. Razão por que eu prefiro as casas velhas. Tenho um amigo que comprou um lindo apartamento, novinho, e morre de tédio. Porque não há, no seu apartamento, nada para ser consertado. Eu sinto uma discreta felicidade quando alguma coisa quebra ou enguiça. Porque, então, eu posso brincar...

Os livros precisam estar ao alcance das mãos. Em todo lugar. Na sala, no banheiro, na cozinha, no quarto. Muito útil é uma pequena estante na frente da privada, com livros de leitura rápida. Livros de arte, por exemplo! É preciso que as crianças e jovens aprendam que livros são mundos pelos quais se fazem excursões deliciosas. Claro! Para isso é preciso que haja guias! Cuidado com os brinquedos: brinquedo é um objeto que desafia a nossa habilidade com as mãos ou com as idéias. Esses brinquedos de só apertar um botão para uma coisa acontecer são objetos emburrecedores - aperta um botão a boneca canta, aperta outro botão a boneca faz xixi, aperta um botão o carro corre. Não fazem pensar. No momento em que a menina resolver fazer uma cirurgia na boneca para ver como a mágica acontece - nesse momento ela está ficando inteligente. Quebra-cabeças: objetos maravilhosos que desenvolvem uma enorme variedade de funções lógicas e estéticas ao mesmo tempo. Armar quebra-cabeças à noite: uma excelente forma de terapia familiar e pedagogia: o pai ensinando ao filho os truques. Ferramentas: com elas as crianças desenvolvem habilidades manuais, aprendem física e experimentam o prazer de consertar ou fazer coisas. A quantidade de conhecimento de física mecânica que existe numa caixa de ferramentas é incalculável. A cozinha aberta a todos. A cozinha é um maravilhoso laboratório de química. Cozinhar educa a sensibilidade.

Você nunca havia pensado nisso, a relação entre a sua casa e a inteligência, a sua inteligência e a inteligência dos seus filhos. Sua casa pode ser emburrecedora. Ou pode ser um espaço fascinante onde os camundongos do prof. Tsien repentinamente ficam inteligentes...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010




O egocentrismo norteia as relações contemporâneas. A sociedade é estigmatizada a cada dia pela ânsia de “querer sempre mais”. Ao que parece, a sangria por status e holofotes se sobressai a qualquer sentimento benevolente. A bandeira ostentada com orgulho pelo individualismo sobreviveu a gerações e jamais esteve tão em evidência como agora. O grito de guerra, “cada um por si!”, vem progressivamente deixando rastros de injustiça, trazendo consigo sofrimento e desigualdade. Como no reino animal, o que predomina é a “Lei do mais Forte”.

Por mais irônico e contraditório que seja, o Brasil, teoricamente, é uma nação democrática. Como um verdadeiro conto de fadas repleto de elementos surreais e utópicos, nosso país é enxergado mundo afora como o verdadeiro Canaã, a terra prometida. Pensa-se por aí que esta nação é acolhedora, justa, não estratificada. Ledo engano. A realidade é outra.

As terras tupiniquins seguem os padrões que regem o mundo capitalista. Enquanto uma minoria goza de prerrogativas muitas vezes conquistadas por meios nem tão honestos, a maioria luta para sobreviver como pode. Daí provêm as explicações para elementos hipocritamente considerados injustificáveis como o aumento da criminalidade e o alastramento das favelas.

Tendo em vista esta opressora realidade, a Igreja Católica propõe para a Campanha da Fraternidade 2010 o tema: “Economia e Vida”. Com o lema: “Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro”, o projeto ecumênico visa a suscitar o despertar da consciência. Não é a primeira vez que a Igreja se mobiliza mediante ao mundo caótico. Desde a década de 1960 a Campanha da Fraternidade tenta incessantemente germinar a semente da justiça, exterminando por meio de ações concretas as inúmeras ervas daninhas que se alastram pelo mundo de forma inexorável. Plausível iniciativa, visto que uma fé não engajada torna-se contraditória ao opor-se ao principal ensinamento cristão: “Amar ao próximo como a si mesmo”. O tema deste ano vem ao encontro da realidade mundial, que ressurge aos poucos após árduos episódios de crise financeira.

Os trabalhos da Campanha da Fraternidade costumeiramente ocorrem no período da Quaresma (considerado o ponto alto da liturgia católica) e se estendem no decorrer do ano. Sempre com temáticas de cunho metanoico, o projeto tem como objetivo fazer com que as pessoas tomem consciência de que o primeiro passo para uma almejada mudança deve partir delas mesmas. Transformar o mundo em tão pouco tempo seria uma ideia um tanto exorbitante e surreal. Esta não é a intenção do projeto. Muito pelo contrário.

A ideia que perpassa as campanhas é o método Ver, Julgar e Agir, o que leva as pessoas a enxergarem a realidade, estudar as causas das aflições que prejudicam o mundo a sua volta e, por último, criar métodos de ações concretas que possam embasar uma pequena transformação. É uma verdadeira corrente do bem. Ao passo que pequenos grupos de estudos vão sendo formados, mais pessoas se juntam e propõem ideias para a efetiva construção da justiça na realidade em que vivem; juntos, disponibilizam um pouco de si mesmos em prol do bem de todos.

A economia solidária defendida pela Campanha da Fraternidade é aquela baseada na distribuição justa dos bens e preza ,sobretudo, à transparência e à equidade. Entretanto, o que enxergamos atualmente está a anos-luz da proposta.

A atitude blasé de cruzar os braços e conformar-se com as injustiças é um grande desperdício. Na qualidade de seres pensantes, temos capacidade para muito mais. Engajar-se em projetos como a CF, que buscam proporcionar conhecimento e bem estar comunitário, pode ser o primeiro passo para a tão sonhada sociedade ideal pautada na qualidade de vida. Uma dimensão espiritual seja ou não religiosa pode nos ajudar a estabelecer metas e, consequentemente, despertar a sensação de que viemos ao mundo com uma missão a ser cumprida.


(*) Este texto, de minha autoria, foi publicado na edição de 23/02 do Espaço Universitário da Folha da Região.


Confira o Hino da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010:


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Cordel antiBBB

Comparilho com vocês o criativo cordel criado por Antônio Barreto, Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,residente em Salvador.Concordo em gênero, número e grau!!! Esse lixo que polui a TV brasileira já está ultrapassando os limites da sanidade...

BIG BROTHER BRASIL



Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,residente em Salvador.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Em Memória de Zilda Arns: O Dom de Pessoas Iluminadas


Pessoas iluminadas têm o dom de deixar marcas sólidas, incapazes de serem apagadas. A construção de belos legados focados no bem estar humanitário é uma qualidade dada por Deus a seres humanos especiais. Pessoas cuja capacidade de fazer a diferença é um dom invicto.

Zilda Arns tinha essa capacidade única. Como uma verdadeira mártir, levava ao mundo mensagens de esperança e fé. Preocupava-se em semear frutos que mais tarde cresceriam e proporcionariam qualidade de vida a milhares de semelhantes. Muito mais do que “dar o peixe”, Zilda ensinava a pescar. Suas principais ferramentas de trabalho: sabedoria, carisma e humildade. Dons que foram transmitidos aos vocacionados adeptos à Pastoral da Criança, que por meio de uma singela metodologia, simplesmente se doam a favor do próximo.

Zilda ostentava olhar sereno e acolhedor. Sua força de heroína era exteriorizada em sua fala simples e ao mesmo tempo severa. Denunciava injustiças, sempre visando ao bem estar dos mais necessitados. O que a tornava diferente dos demais era seu poder de estimular esforços. Acreditava na capacidade de superação que, somada à virtude de fazer o bem, tornava o mundo melhor.

Certas fatalidades estão aquém de nossa compreensão. Uma tragédia colocou fim à bela trajetória de nossa líder. Ela pode ter partido fisicamente, mas seu legado deixará marcas eternas. A missão da Pastoral da Criança é dar continuidade às ações transformadoras propostas por Zilda. Nosso foco é o bem estar do próximo, em especial, dar assistências aos mais necessitados. Aprendemos com Zilda que para promover a qualidade de vida temos que, antes de tudo, acreditar na capacidade de nossos semelhantes.

Ela se foi. Mas seus ensinamentos e atitudes servirão como base encorajadora que nos dará ânimo para continuar nossos trabalhos. A Pastoral da Criança está órfã, mas não desanimaremos. Continuaremos a levar o amor materno àqueles que necessitam. Temos a certeza de que valerá a pena.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Entretenimento Trivial Domina a Televisão Brasileira

Ano Novo. Época na qual as grandes emissoras de TV apostam em novas produções. No entanto, nem tudo é novidade. Entre reprises de programas tradicionais e filmes, as emissoras lutam por conquistar audiência e gordas fatias no mercado publicitário. Para atingir os respectivos fins, não importam os meios. O quesito qualidade nem sempre é valorizado.

Como de praxe, mais uma vez a Rede Globo de televisão, que se gaba por ser a emissora número um do país, ostenta com alarde o seu Big Brother Brasil. A atração mais medíocre e constrangedora da telinha, já sobrevive há dez bem sucedidas edições. Infelizmente isso comprova que qualidade e bom senso não são fatores levados em conta pelas emissoras e, sobretudo pelos telespectadores.

A fórmula é simplista: um grupo de pessoas, geralmente jovens, belos, fúteis e pragmáticos, confina-se durante alguns meses em uma luxuosa mansão cheia de regalias. Aquele que permanecer na casa sem ser eliminado ganha uma respeitável quantia em dinheiro. Enquanto isso vale tudo para se projetar e fazer valer os minutos de fama.

Os participantes são explorados das mais diversas maneiras por meio de estúpidas provas que colocam em xeque a moral de quem está confinado na casa e, principalmente, a inteligência do telespectador. Tudo devido ao afã da emissora em conquistar picos no Ibope e publicidade.

O tal BBB é a típica atração da Indústria Cultural, aquela que se dispõe a atingir a grande massa através de fórmulas que não exigem esforço mental. Entretenimento vazio que não preza a capacidade de raciocínio. Talvez seja por isso que o programa ainda sobreviva. Em contrapartida, produções de qualidade são ignoradas pela grande massa dominante e, consequentemente, pelo mercado publicitário.

A exploração da dignidade humana é vista com naturalidade pela maior parcela da população. À medida que os participantes vão gradualmente se transformando em vilões ou mocinhos, de acordo com roteiros propostos pela produção, as famílias brasileiras aglomeram-se em frente ao aparelho televisor para descarregar ódios e torcidas a seus respectivos desafetos e prediletos. Enquanto isso, o diálogo familiar afunda-se aos poucos no ostracismo.

A capacidade intelectual em discernir entre uma atração que acrescente benefícios a formação e outra que preza exclusivamente ao entretenimento vazio, apenas será adquirida quando a educação for o foco dos planos governamentais.

Infelizmente a maior parte dos brasileiros é corrompida pelas insídias da Indústria Cultural, soberanamente encontrada em qualquer tipo de mass media contemporâneo, que valoriza o entretenimento e a trivialidade das relações humanas, escancaradamente exploradas em atrações de confinamento como o Big Brother Brasil. Não existe a consciência de que as redes se apropriam de concessões públicas e, portanto, têm o dever de proporcionar qualidade. Voltemos à realidade.


(*) Texto de minha autoria publicado no jornal Folha da Região do dia 12/01/2010, data de estreia da décida edição do referido reality show.