quinta-feira, 29 de julho de 2010

Primeiros versos (1)...




No fundo do poço. Assim estava ela. Seu pensamento atinha-se unicamente a um objetivo: dar fim ao legado de sua miséria. A desgraça corroia-lhe cada milímetro de seu corpo. Não tinha mais vontade de nada. Outrora, era bem sucedida e amada. No entanto, tais regalias converteram-se em mero abandono. Jogada às traças. Humilhada. Ferida. Haveria uma nova chance para consertar um equívoco do passado?


Como pudera o sucesso que demandou inúmeros anos para ser conquistado desabar em apenas um deslize?! Nada mais tinha sentido. Tudo estava consumado. No entanto, a perda de dinheiro e status não a afligia tanto quanto a perda daquele a quem depositava todo o propósito de seu destino. Ela se deu conta de que o amor nada mais é do que um simples jogo de conveniências. Afundada em pensamentos de descrença, o único destino favorável a ela foi livrar-se dela mesma, um verdadeiro encargo para a sociedade...


Em um ímpeto de coragem decidiu cavar a própria sepultura. Subiu encima da mesa... Enrolou uma corda no pescoço, amarrando a mesma no teto... Por um minuto, recordou-se dos velhos tempos de infância, único período de sua estúpida vida no qual se sentira feliz. Infelizmente, pensava ela, a incrível máquina do tempo era mera utopia; os momentos bons eram apenas arquivos mortos em sua memória. Estavam apagados em algum tempo bastante remoto. Pensou em desistir do ato e dar a volta por cima; mas... um ato de coragem e bravura compensaria toda a inutilidade de seu ser... Pulou. Não restava mais nada... Findou um ciclo de amargura. Apagam-se as luzes...