segunda-feira, 8 de abril de 2013

“Sozinho no Deserto Extremo”: o inferno é você mesmo



Imagine acordar certa manhã e perceber que todas as pessoas do mundo desapareceram misteriosa e inexplicavelmente. Esta é a premissa do livro “Sozinho no deserto Extremo” (Prumo, 2012, 320 páginas), obra do brasileiro Luis Brás (pseudônimo do escritor Nelson de Oliveira).

Davi, pacato e estereotipado proprietário de uma agência de publicidade se vê envolto na mais remota e assustadora solidão. Em determinada manhã, ao acordar, se dá conta de que a imensa São Paulo fora evacuada, restando apenas ele. Somente ele. A partir daí, Davi inicia uma batalha consigo mesmo. Se Sartre defendera que “o inferno são os outros”, o protagonista da obra experimenta na carne que o inferno é e está nele mesmo.

Os conflitos psicológicos causado pela solidão e os devaneios do fracassado protagonista são esmiuçados de forma com que autor e personagem se confundem. O leitor é levado a submergir-se no universo angustiante e aterrador da solidão total. O deserto extremo é o próprio universo de Davi, que de delírio em delírio vai definindo sua nova personalidade rumo à loucura.

Outrora desejo invicto de Davi, a solidão total desencadeia nele a verdadeira insanidade, a ponto de levá-lo a criar realidades. Uma suposta “menina-santa”, um maníaco incendiário e uma boneca inflável aparecem no caminho de Davi, o que leva o leitor a questionar-se até que ponto a realidade é real ou criada no universo particular do protagonista.

“Sozinho no deserto extremo” é uma história de profundas implicações filosóficas e repleta de simbolismos, porém, em contexto concreto e familiar. Cabe ao leitor desvendar enigma por enigma e construir sua própria reflexão, amparada nos devaneios e realidades criadas por Davi. Leitores não habituados a refletir e que procuram leitura pragmática verão o livro como obra descartável.