
Episódios como o ocorrido no dia 7 de abril na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, ultrapassam qualquer possibilidade de questionamento. Ao me deparar com a notícia, fiquei estático por alguns instantes. Sem perceber vieram as lágrimas, bem lá do fundo, instigadas por um misto de horror, lamento e decepção. Mediante ao caos, pensar com a razão é impossível. Imaginar o que pode levar alguém a cometer chacinas como essa acaba por gerar revolta, induzindo-nos ao pensamento de que “nada justifica”. Principalmente em alguém, como eu, que acredita em possibilidades de mudanças.
Ao ler sobre o perfil do assassino, percebo que ele foi vítima de um sistema excludente. No entanto, dentre as inúmeras possibilidades de escolha que a vida nos apresenta pelo livre arbítrio, escolheu o pior caminho: o da destruição.
Fico imaginando a imensidão da dor que toma conta dessas famílias brasileiras e tento me colocar na condição delas. Mas isso é em vão. A dor dessas pessoas é tamanha que supera qualquer possibilidade de alguém senti-la. Apenas imagino, depositando nas orações e no silêncio minha solidariedade.
como cenas de um filme, vêm a meu pensar imagens do cotidiano. Como teria sido o momento em que essas crianças saíram de casa para irem à escola? Os coraçõezinhos cheios de esperança e vontade de aprender e buscar conhecimento para ser alguém na vida. Os olhos focados na possibilidade de crescimento... O café da manhã em família... O abraço apertado e as bênçãos recebidas dos pais... A expectativa do retorno a casa para contar a família tudo o que foi visto na escola... Imagino a luz que irradiava nos inocentes corações.
Mas a luz foi apagada. Veio o frio, o medo, a incerteza. Os gritos felizes e esperançosos deram lugar a gritos desesperadores. De forma trágica, foi dado um ponto final na trajetória desses pequeninos. Caos. A correria nos corredores da escola, que normalmente é motivada pelo anseio de chegar primeiro a sala de aula, foi substituída por correrias com o fim de salvar a vida e acordar ileso no dia seguinte...
Mas, mediante as trevas, consegui visualizar o brilho de uma luz, presente na solidariedade das pessoas, que não cessaram esforços para dar um pouco de alento às vítimas e familiares.
Em uma reportagem a repórter pergunta a uma garotinha que escapou da tragédia se ela gostaria de voltar à escola no dia seguinte. A menina responde que sim: “Quero fazer faculdade e me tornar bióloga”. Aí está a esperança de ressurreição, a imagem viva de que um novo mundo pode ser possível. Ainda é possível que nasça uma flor...
5 comentários:
Maravilhoso texto, infeliz história. Infelizmente aconteceu, não era filme norteamericano, nem ensaio pra um deles; era vira real!
Rômulo Gomes
Uma barbárie! Como não se emocionar em meio a tanta covardia? Impossível.
Resta também pedirmos muito a Deus, que abençõe essas famílias que perderam a alegria e a paz num gesto de tamanha brutalidade.
Crianças inocentes ceifadas. Sonhos destruídos e interrogações no ar. Porque?
òtimo texto, Diuân.
Abraço
Num dia desses a gente acorda e vê que tudo mudou... que a dor desadoeceu, que o tédio "desatediou", que a solidão desapegou e o que cansa mesmo é não viver nada intensamente...
Diuân, vc é sensasional. Excelente texto. Entretanto, um fato trágico. Essa barbárie que ocorreu em Realengo faz-me pensar: Será que pode-se ter esperança? Pela grande e madura resposta daquela menina, quando perguntada sobre largar a escola, me levou a um trajeto oposto, ou seja, da desesperança à felicidade de que mesmo na existência de tanta crueldade ainda existe BONDADE E SONHOS. Solidarizo-me com os familiares das vítimas de Realengo e espero que eles se mantenham firmes nesse momento de muita dor. Abraços meu amigo!!
Essa tragédia estará marcada para sempre no coração dessas famílias que perderam suas jóias. Pois, é isso que filho significa para os pais. O bem mais precioso que a vida nós dá.
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