
Imagine
acordar certa manhã e perceber que todas as pessoas do mundo desapareceram
misteriosa e inexplicavelmente. Esta é a premissa do livro “Sozinho no deserto
Extremo” (Prumo, 2012, 320 páginas), obra do brasileiro Luis Brás (pseudônimo
do escritor Nelson de Oliveira).
Davi,
pacato e estereotipado proprietário de uma agência de publicidade se vê envolto
na mais remota e assustadora solidão. Em determinada manhã, ao acordar, se dá
conta de que a imensa São Paulo fora evacuada, restando apenas ele. Somente
ele. A partir daí, Davi inicia uma batalha consigo mesmo. Se Sartre defendera
que “o inferno são os outros”, o protagonista da obra experimenta na carne que
o inferno é e está nele mesmo.
Os conflitos psicológicos causado pela solidão e os devaneios do fracassado protagonista são esmiuçados de forma com que autor e personagem se confundem. O leitor é levado a submergir-se no universo angustiante e aterrador da solidão total. O deserto extremo é o próprio universo de Davi, que de delírio em delírio vai definindo sua nova personalidade rumo à loucura.
Outrora
desejo invicto de Davi, a solidão total desencadeia nele a verdadeira
insanidade, a ponto de levá-lo a criar realidades. Uma suposta “menina-santa”,
um maníaco incendiário e uma boneca inflável aparecem no caminho de Davi, o que
leva o leitor a questionar-se até que ponto a realidade é real ou criada no
universo particular do protagonista.
“Sozinho
no deserto extremo” é uma história de profundas implicações filosóficas e
repleta de simbolismos, porém, em contexto concreto e familiar. Cabe ao leitor
desvendar enigma por enigma e construir sua própria reflexão, amparada nos
devaneios e realidades criadas por Davi. Leitores não habituados a refletir e
que procuram leitura pragmática verão o livro como obra descartável.
Um comentário:
Estou lendo atualmente esse livro nada descartável. Afinal, Davi é como tantos de nós que deseja, só por um dia, um mundo particular. E o livro nos faz mergulhar nesse ideário e experimentar o azedume de nós mesmos.
Estou adorando!
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