quinta-feira, 17 de junho de 2010

O poder da verdade jornalística




Washington, 1972. Cinco homens invadem o edifício Watergate. Para os jornais, o fato parecia apenas mais uma matéria a ser estampada nas páginas destinadas às ocorrências policiais. No entanto, os aparentes “ladrões” se distinguiam dos demais: usavam terno e gravata. Esta característica despertou a atenção da equipe do jornal The Washington Post. Os jornalistas Carl Bernstein e Robert Woodward foram designados, dentre toda a equipe, para realizar a cobertura do misterioso caso.

Com o passar do tempo, o quebra-cabeça foi sendo montado milimetricamente. Até que, por meio de uma apuração que serve como referência para a prática jornalística, concluíram que a invasão estava relacionada a um esquema de corrupção e espionagem que forjaria a ascensão presidencial de Richard Nixon ao segundo mandato.

O episódio serviu de base para a produção do filme “Todos os homens do presidente” (All the presidents men), conduzido por Alan Pakula em 1976. O longa-metragem acompanhou todo o processo de apuração de Bernstein e Woodward, interpretados respectivamente por Dustin Hoffman e Robert Redford. O filme sobreviveu ao tempo, convertendo-se em um clássico que vale como uma verdadeira aula de jornalismo investigativo.

A parceria entre os profissionais deve ser considerada como uma das causas da bem sucedida cobertura. No início, por exemplo, nota-se que Bernstein detinha mais experiência profissional em detrimento de Woodward. No entanto, isto não coloca em xeque e união de ambos. A experiência de um auxilia o outro, visto que o objetivo era único: fazer com que o produto final (a notícia) fosse divulgado da melhor forma.

O foco do filme foi demonstrar os processos da investigação jornalística. O caso era extremamente obscuro, o que exigia dos jornalistas muita cautela; qualquer deslize resultaria em equívocos e informações distorcidas. A invasão a Watergate envolvia importantes segmentos do poder norte-americano; qualquer fonte que tivesse conhecimento dos fatos estava em risco. Os profissionais souberam preservar seus entrevistados, atendendo aos preceitos éticos que incidem sobre o sigilo das fontes.

À medida que as informações eram apuradas, passavam pelo crivo do exigente editor. Inúmeros textos foram vetados ou reduzidos, visto que a empresa jornalística prezava pela veracidade e consistência das informações. Esta preocupação com a transparência resultou em matérias emblemáticas, capazes de moldar o pensamento da população americana acerca de seus governantes.

O longa-metragem comprova que o jornalismo tem a possibilidade de transformar a realidade, arquitetando o pensamento de uma população, sem manipulá-la. No caso Watergate, em momento algum o The Washington Post revelou pontos de vista. As informações apuradas apenas foram transmitidas. Coube a sociedade americana concluir o que se passava por detrás das paredes da Casablanca, tendo como pano de fundo as descobertas propagadas pelo jornal.

Confira trailer do filme:







(*) Resenha originalmente produzida como atividade avaliativa da disciplina Jornalismo Especializado, ministrada pela jornalista Ayne Salviano, no sétimo semestre do curso de comunicação Social com habilitação em Jornalismo.

sábado, 12 de junho de 2010

Reflexões: Em Construção...




Conturbados. Assim têm sido meus dias de uns tempos para cá. Faculdade na reta final, trabalho... Enfim, diversos afazeres têm ocupado meu tempo de modo a me impossibilitar de atualizar este espaço que me proporciona tanto prazer. É de conhecimento geral que a maior paixão de um futuro jornalista é a possibilidade de se expressar de forma independente, sem o crivo das limitações impostas pelos editores. O blog é uma das poucas alternativas para se expressar livremente e fazer valer a hipótese de que jornalistas são escritores / pensadores.

Hoje me arrisco a escrever sobre um tema que me gera muitas indagações e revolta: a hipocrisia da sociedade e as contradições das relações cotidianas (males dos quais também sou vítima). Não é segredo para ninguém que absolutamente todas as pessoas utilizam máscaras nas vinte e quatro horas do dia. Não há mais espaço para a autenticidade. A não ser no momento escatológico, a maior parte das pessoas engana-se a si mesmas impondo realidades completamente arquitetadas, a fim de se adaptarem as convenções sociais. A autenticidade pode ter um preço caro...

Imagine só a anarquia que o mundo se transformaria se todos resolvessem arrancar as máscaras... O senso comum que me perdoe, mas cabeças iriam literalmente rolar. Porém, somente a transparência limitaria o teor patriarcal das relações humanas e as hierarquias pautadas nos ideais de opressão.

Indivíduos completamente autênticos são rotulados como loucos e a consequência desta tal “insanidade” é a reclusão, visto que se acredita que eles podem causar sérios danos à sociedade. Tal demagogia não está completamente equivocada. Se os loucos resolvessem arrancar as máscaras de toda a sociedade, ninguém ficaria imune.

Infelizmente não se pode mudar uma realidade enraizada. As pessoas já nascem com a maquiagem que as adaptarão a sobreviver no grande palco da vida. Como verdadeiros palhaços que “pintam o rosto para viver”, necessitamos criar personagens que se adaptem às exigências impostas por alguém (um ser desconhecido que começou tudo isso). E eis que o mundo vai gradualmente se transformando em um imenso circo imundo...