domingo, 30 de novembro de 2008

Sugestão de Leitura: "Minha Razão de Viver- Memórias de um repórter"

O Verdadeiro Rei do Brasil


Vitórias, conquistas e fracassos são situações comuns no enredo da vida. No decorrer de nossa existência, deparamo-nos com situações que podem gerar alegrias ou frustrações. Somos protagonistas de uma grande peça de teatro. Nossos caminhos são frequentemente cruzados por pessoas das mais diferentes índoles, capazes de nos fazer tanto o bem quanto o mal. Diferentemente das demais espécies, o ser humano é dotado de sentimentos e, portanto, capaz de sonhar.

A história de um grande sonhador, colecionador de vitórias e fracassos, é retratada com perfeição na obra Minha Razão de Viver- Memórias de um repórter (Editora Record, 1988, 282 páginas). A antologia, cuja leitura deveria ser feita por toda a comunidade jornalística, é narrada pelo próprio Samuel Wainer. Toda saga dele, desde a infância pobre no bairro judeu do Bom Retiro, até a criação do jornal “Última Hora”, é emocionalmente imortalizada nas páginas deste livro de memórias.

Wainer revolucionou o jornalismo brasileiro ao introduzir, com a ajuda do então ex-ditador Getúlio Vargas, um periódico à frente de seu tempo. Nos conturbados anos de 1950, toda a imprensa existente no país visava a divulgar interesses e opiniões dos proprietários. A proposta do Última Hora era diferente: o jornal, como afirmava Samuel Wainer, seria uma arma do povo. Porta-voz do getulismo, o jornal não obedecia exclusivamente aos interesses de Wainer.

Inicialmente a revolução no jornalismo foi catastrófica. Mad decorrido algum tempo, o Última Hora transformou-se em um grande sucesso. Foi o pioneiro no uso de cores fortes e fotos grandes na primeira página; obrigou toda a imprensa a divulgar o getulismo; criou a primeira coluna social; enfim, o sucesso do jornal incitava os grandes senhores da imprensa, dominados pela inveja, a destruir samuel Wainer.

Antes de se aventurar na criação de um jornal próprio, Wainer era repórter dos “Diários Associados”, propriedade do atípico Assis Chateaubriand. Ao desvincular-se das empresas de Chateaubriand para criar seu próprio jornal, Wainer passou a ser visto por Chato como uma ameaça a seu império. Em conivência com Carlos Lacerda, arquiinimigo de Samuel, Chato não economizou esforços para destruí-lo. Em uma das mais perturbadoras tentativas, a dupla levou a público o fato de Wainer não haver nascido no Brasil. Devido a este episódio, nosso herói passa um tempo na cadeia, visto que estrangeiros eram impossibilitados de possuir empresas de comunicação. Entretanto, Wainer fora libertado e considerado um exemplo de brasileiro pela paixão que demonstrava pelo país.

Em uma narrativa alinear, Minha razão de viver, por se tratar de um livro de memórias, é evidentemente, dotado de subjetividade e emoção. A impressão trasnmitida ao leitor é a de que Wainer fora um idealista. Acontece que o idealismo, como o próprio termo indica, restringe-se única e exclusivamente ao mundo das idéias. Portanto, nem sempre se converte em realidade.
Convém dizes que Wainer fora um grande aventureiro. Sempre agia com a esperança de que todas as suas aspirações estivessem fadadas a se concretizarem de maneira bem-sucedida.
O Última Hora foi a primeira cadeia jornalística nacional efetivamente homogênea. O jornal que sobreviveu à ditadura. Entre vitórias e fracassos (aliás, Wainer não se intimida em revelar seus incontáveis fracassos), foi desde a idealização até a ruptura, a razão de viver de Samuel Wainer, o jornalista.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Confira abaixo uma matéria idealizada por mim, juntamente com meu amigo de classe Cristiano Morato, acerca do Instituto Solar de Birigui. O objetivo da ong é orientar portadores do vírus HIV.



A Lepra do século XXI
Ong de Birigui auxilia portadores do vírus HIV/AIDS.
Cristiano Morato
Diuân feltrin
“Encontramos pessoas que enfrentam os mesmos problemas ou maiores que nossos. Sempre há alguém para nos dar uma palavra de consolo, é bom saber que você não é o único do mundo. A Solar é a minha família aqui em Birigui.”

As palavras de Néia servem de consolo para aqueles que temem que a vida se acabe após contrair o vírus HIV. Com diversos métodos preventivos, jovens de todas as idades insistem em arriscar a própria vida em um jogo sem volta. Há seis anos, Néia descobriu que era portadora do HIV. Emagreceu muito, e a partir de então, fez o teste e o resultado foi positivo. Ela não faz idéia de como se contaminou, mas desconfia de um ex-namorado que já faleceu.

Há onze anos a Ong Solar Eunice Weaver, com utilidade pública municipal, presta assistência às pessoas com AIDS. Atendem cerca de 30 famílias, que participam de reuniões sócio-educativas semanalmente, nas quais recebem alimentos e leite para auxiliar a ingerir a medicação, além de acompanhamento psicológico nas famílias e visitas domiciliares.

A maioria das pessoas que procura a instituição vive em bairros pobres da periferia. Não tem escolaridade, não conseguiram sequer concluir o Ensino Fundamental. Muitos não têm profissão definida, são pessoas que não têm renda fixa, pagam aluguel e têm mais de um filho.
A maioria das participantes das reuniões são mulheres. Muitas contraem o vírus de seus companheiros, que por sua vez, contaminam-se através de relações extraconjugais ou consumo de drogas.

Em 2001, quando foi realizar o exame pré-natal, Júlia (nome fictício), estava grávida de quatro meses. Ao conferir os resultados, descobriu que tinha HIV. Revoltada, sentiu-se traída pelo ex-marido, rejeitada pela família que não aceitava a doença, e muito deprimida, procurou a Solar, onde teve apoio, assistência e “amigos prontos para ajudar.”

Júlia trabalha, estuda é mãe, esposa e leva uma vida “normal”. Já Néia, encontra dificuldades para encontrar emprego. “Os patrões têm medo de nos empregar e ficarmos doentes alem do preconceito que é muito grande”, afirma. Para a presidente da Solar, Mara Masson, a lepra sempre foi vista com preconceito. “As pessoas não se aproximavam dos leprosos, a Aids é a lepra da atualidade”, revela.

Muitos jovens, ao iniciar a vida sexual, previnem-se, mas com o tempo acabam buscando em festas, diversões e adrenalina. Por isso usam drogas e praticam sexo com mais de uma pessoa sem “camisinha”. Contraem o vírus e, sem saber, passam para outras pessoas. O HIV é o vírus da imunodeficiência humana e a Aids é doença provocada pelo vírus. Uma pessoa pode ter o vírus e levar muitos anos para que a Aids se manifeste. O teste do HIV é gratuito, feito pela rede pública de saúde de cada cidade. É a melhor forma de ter a certeza de que se está saudável.
Mara Masson diz que com o tratamento, a aparência do paciente se torna normal. “Ninguém imagina o sofrimento pelo qual eles passam. Não é fácil conviver com o vírus”, diz. A Solar distribui cerca de 3000 preservativos por mês em campanhas. Os preservativos podem ser adquiridos na instituição e em postos médicos. “Está na hora dos jovens passarem a usar preservativo nas relações sexuais”, aconselha a presidente da Ong.

Beijo no rosto, talheres, copos, assentos de ônibus, piscinas, banheiros, sabonetes, toalhas, lençóis, picada de inseto, suor, lágrimas e sexo feito com preservativo, são fatores que não transmitem a doença. A diferença entre a lepra e a Aids é que esta não é transmissível. Os diversos medicamentos mantêm a aparência do paciente “normal”. Existem pessoas que não resistem à intensidade do tratamento, devido aos efeitos colaterais. Sendo assim, a resistência do corpo torna-se frágil. O indivíduo adoece e em seguida vem a falecer.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sugestão de Filme!!! "AO VIVO!"

A vida como espetáculo
A televisão mundial tem como principal meta a busca por elevados índices de audiência. Isso traz prestígio, credibilidade e, principalmente, atrai muitos anunciantes, o que é fundamental e dá sustentação aos veículos membros da produção capitalista. Acontece que para atingiram tal finalidade, as redes utilizam-se de artimanhas muitas vezes, digamos, não-convencionais.

Com base nesse contexto, o diretor Bill Guttentag, realiza em 2007 o filme “Ao Vivo!” (“Live!”). A obra conta a história de Katy Coubert (interpretada com perfeição por Eva Mendes, de “Lenda Urbana II” e “Mulheres- o sexo forte”), exigente diretora de programação de uma emissora de TV fadada ao fracasso e à mesmice. Katy almejava idealizar um programa que se desligasse de tudo o que predominava na televisão americana. Desejava um programa impactante, mas que fosse diferente dos reality shows de sucesso como Big Brother e American Idol.

Juntamente com uma equipe de profissionais, Katy estuda diversos produtos. No entanto, uma idéia proposta por uma das produtoras desperta atenção especial em Katy. Questionando o interesse que o telespectador possui em acompanhar a morte, surge a proposta de um programa no qual o jogo da Roleta Russa seria a temática. O que começou com uma simples brincadeira, transformara-se na obsessão de Katy. Após intensas brigas e discussões acerca do projeto, eis que a emissora consegue levá-lo ao ar.

Seis pessoas de personalidades distintas são escolhidas para compor o elenco do ousado projeto. Apontando uma arma diretamente a cabeça, todos correriam o risco de morrer ao vivo durante o programa, mas apenas um deles ganharia o prêmio: uma grande quantia em dinheiro que resolveria a vida de qualquer um.

Ousado. Envolvente. Misterioso. O filme desperta no espectador uma série de sensações ao propor discussões como a liberdade de expressão, a preservação da vida e a incessante busca pela audiência. Filmado propositalmente com a câmera em constante movimento, o filme assemelha-se a um reality show. Os diálogos entre Caty e seus produtores apresentam argumentos capazes de fazer com que o espectador abandone a condição passiva de mero ouvinte. Nesses diálogos, involuntariamente se desperta uma intensa vontade de discutir sobre o tema.

Com um final surpreendente, “Ao Vivo” não chega a ser uma grandiosa produção cinematográfica. Está longe de ser semelhante aos filmes convencionais que procuram atender às expectativas do mercado publicitário. No entanto é uma produção inteligente, e ao mesmo tempo uma ótima opção para quem procura alguns momentos de diversão. Vale a pena conferir!
Informações Técnicas
Título no Brasil: Ao Vivo!
Título Original: Live!
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Classificação etária: 18 anos
Tempo de Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento: 2007
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes
Direção: Bill Guttentag

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Uma questão de fé

A fé é uma questão geradora de intensos debates na sociedade atual. Questionamentos, incertezas e frustrações congregam as inúmeras pautas que intensificam as discussões acerca de tal assunto. Acontece que a fé jamais teve e jamais terá explicação. Pode parecer puro subjetivismo barato, pieguice, mas é fato que a grande façanha de ter fé é o fato de acreditar sem ter visto!

Acontecimentos muitas vezes imperceptíveis reforçam a convicção de que algo superior existe! A graça divina encontra-se presente nos mais corriqueiros momentos do cotidiano. Momentos considerados banais denotam a verdadeira presença de Deus vivo em nosso meio!

Você já parou para pensar em como é belo o amanhecer de um dia? Já prestou atenção em como uma simples frase como “Bom Dia”, pronunciada com sinceridade, é capaz de nos dar ânimo mesmo quando tudo parece estar dando errado? Já reparou no brilho dos olhos das pessoas que nos cercam? Já percebeu que o coração de pobre é muito mais rico do que de pessoas com alto poder aquisitivo? Percebeu que alguns amigos nos fazem bem apenas com sua presença? Enfim, Deus se encontra no meio de nós nos mais singelos momentos...

Escrevi esse texto a partir de uma conversa que tive com um amigo. Ele praticamente se revoltou com tudo que se relacionava a existência divina. No entanto, constatei que a visão de alguns ateus sobre a vida é muito mais primorosa do que a de determinados cristãos convictos. A explicação que ele me deu foi a seguinte: “Se Deus está realmente presente em nosso meio, como pode o mal sobressair-se sobre o bem?”

Tal frase, caros amigos, denota o verdadeiro sentido de uma fé madura: acreditar que dois caminhos existem e cabe ao ser humano adquirir discernimento para decidir-se sobre qual deles seguir. Quanto a fé, já disse, não tem explicação. É algo intrínseco que nasce do interior de cada ser humano e amadurece com o passar dos anos. Vale a pena pensar...

domingo, 9 de novembro de 2008

Heróis que matam

Dia 23 de abril de 1975. Os relógios já marcam altas horas da madrugada. Três jovens de classe média passeiam pelas ruas da grande São Paulo em um fusca azul. Os policiais militares suspeitam dos jovens e passam a persegui-los incessantemente. O motorista, o menor Francisco Noronha, temendo pelos policiais, acelera o máximo que pode. Entre bruscas freadas e curvas perigosas, perde a direção e colide com um poste.

 

Os policiais militares das rondas Ostensivas Tobias de Aguiar número 66, abordam os três jovens com tiros à queima-roupa. Aniquilam um por um sem motivo pré-estabelecido. Detectam se estão realmente mortos e os levam ao hospital alegando se tratarem de criminosos. Alteram o local do crime, dificultando o trabalho da perícia. Diversos casos com as mesmas características aconteceram a partir de então.

 

Esse fato despertou o instinto detetivesco do jornalista Caco Barcellos que passa a investigar todos os casos de extermínio de supostos criminosos pela PM. A árdua e invejável pesquisa de 22 anos resultou em uma obra detalhista, requintada e perturbadora. “Rota 66- A História da Polícia que Mata” (Editora Record, 2003, 350 páginas), equipara-se a famosos best-sellers de ficção. Os detalhes do sadismo dos “defensores da lei” estancam no leitor uma confluência de sentimentos como angústia, nojo, apreensão, ódio e ansiedade. Difícil crer que se trata de uma realidade brasileira.

 

O episódio dos três jovens do fusca azul obteve repercussão na época porque foi contrário às práticas comuns de extermínio tradicionais: a maioria dos assassinados eram pessoas pertencentes a camadas sociais desprivilegiadas, moradores da periferia de São Paulo, negros e menores de idade.

 

O autor é capaz de traçar em sua narrativa, aspectos físicos e psicológicos das personagens exterminadas e dos policias opressores, a ponto de causar a impressão de que são criações dele. Isso é resultado de arriscadas entrevistas com familiares das vítimas e intenso aprofundamento analítico em documentos esquecidos da polícia militar. Com o livro, Caco Barcellos procura solucionar os casos de injustiça, opressão e abuso de poder por parte daqueles que, teoricamente, deveriam honrar a justiça.

 

 

Passados alguns anos desde a elaboração da obra de Caco Barcellos, a mascarada impunidade prevalece. No dia 28 de junho de 2008 o policial militar Marcos Parreira do Carmo baleou o estudante Daniel Duque, 18 anos, na saída de uma boate do Rio de Janeiro. O resultado do julgamento não poderia ser diferente. Em uma atitude descaradamente corporativista, o júri garantiu inocência ao PM. Resultados como esses são relatados de forma contestadora na descrição dos inquéritos que julgavam as operações das Rondas Ostensivas.

 

“Rota 66” possui peculiaridades que o assemelha ao grandioso e famigerado clássico de Truman Capote, “A Sangue Frio”. Descrições minuciosas, riquezas de detalhes e narrativa cativante são elementos comuns a ambos. O trabalho de Barcellos revela a excelência da função social desempenhada pelo jornalismo. Serve como fonte de inspiração para qualquer profissional que almeja aperfeiçoar-se e para quem simpatiza com eletrizantes histórias de ação.