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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal (de verdade)



Comemorar o natal e ao mesmo tempo ignorar a realidade do mundo soaria como atitude minimamente hipócrita. Nesta época do ano é comum nos depararmos com atitudes que, em outros momentos do ano dificilmente acontecem. Para atender àquilo que o capitalismo ou sei lá o que pregam, parece que certo amor que não sei de onde vem invade o coração das pessoas.

Patrões que passam o ano todo humilhando e explorando funcionários os presenteia com panetones, confraternizações e afins; pessoas fazem “vaquinhas” para entregar cestas básicas aos que necessitam, como se a fome tivesse tempo pré-determinado para ser cessada; pessoas que mal se falam durante o ano todo se abraçam e desejam boas festas... Enfim, a hipocrisia rola solta!

No entanto, não é só de ceticismo que vive este blogueiro que, por sinal, há tempos não passa por aqui. Acredito que o Natal resgata sentimentos que deveriam ser valorizados nos 365 dias do ano. São atitudes básicas de humanidade que não podem ser prescindidas. Atitudes que, se praticadas com maior freqüência, tornaria o mundo um pouco melhor. O Natal poderia se estender por todo o ano, para que as pessoas passassem a “amolecer” o coração como fazem nesta época do ano.

Nunca fui adepto às comemorações de festas natalinas. Participo mais por convenção social. É muito bom sim estar em família, no entanto, acredito que também possamos comemorar juntos em outras ocasiões.

Dou mais valor ao que a maioria das pessoas, em virtude do consumismo voraz motivado pelo capitalismo nesta época do ano, acaba esquecendo: o grande mistério da encarnação de Deus, que assumiu inteiramente a condição humana, sobretudo as imperfeições. Ele veio como luz para iluminar as trevas da humanidade que havia perdido a esperança. É este o sentimento que deve nortear nossa vida, a fim de que saibamos manter olhar esperançoso frente ao mundo e, assim, estender para toda a existência os sentimentos natalinos.

sábado, 30 de julho de 2011

A imagem ideal do Divino

Antes de dizer amém em suas casas e lugares de oração, pensem, pensem e lembrem-se, existe uma criança ouvindo – Mary Griffity

Existe uma lógica que normatiza a expressão de nossa fé. Este costume nos é imposto desde o momento em que nascemos. Aprendemos os nomes de Deus, a temê-lo, a evitar que Ele nos castigue, a como experimentar nossa espiritualidade, enfim. Nossa relação com o divino é intermediada por meio de fórmulas prontas com as quais o diálogo com Deus é “facilitado”. Este tipo de religiosidade/espiritualidade revela uma lógica opressora, visto que nos aprisiona a nós mesmos, impedindo-nos de buscar o sagrado em sua verdadeira essência.

Nossa capacidade de descobrir a espiritualidade por meio do caminho da vida é cerceada à medida que nos é imposta a imagem de um Deus soberano, distante da realidade e todo-poderoso. Especialmente na infância, a imagem de Deus que é construída na mentalidade das pessoas é de um Pai austero que castiga seus filhos quando estes se desviam de regras tidas como verdades universais. Tal imagem é embutida no indivíduo, que cresce com esta visão do Sagrado. Este é um dos maiores causadores de toda a opressão que assola o mundo.

A existência de alguém que possui as rédeas da situação e a controla por meio de mecanismos opressores pressupõe medo e, por consequência, conformismo por parte da sociedade. A capacidade do ser humano de raciocinar, argumentar e se opor a preceitos impostos é subtraída.

A construção da imagem de um Deus opressor serve para esconder as opressões causadas pela própria humanidade. Colocar a culpa em Deus pelos equívocos e preconceitos sociais é mais cômodo. Sendo assim, instituições religiosas formulam suas prescrições a fim de edificar uma sociedade ideal para elas mesmas, isto é, benéfica para uma singela parcela da sociedade. O que é certo e o que é errado condizem unicamente com os ideais daqueles que controlam. O patriarcalismo impera.

No entanto, o que tudo isso tem a ver com a frase de Mary Griffity? É na educação nos primeiros anos de vida que a personalidade do ser humano vai sendo aos poucos moldada. A partir daí, o indivíduo cria capacidade e autonomia de discernir os caminhos a se seguir. Se continuarmos a dizer “amém” na frente das crianças a um Deus opressor, perpetuaremos a existência de uma sociedade que isola, exclui e prega preconceitos.

Por outro lado, se a imagem do divino for construída junto com a criança, a partir dela mesma e do universo no qual vive, os benefícios e as delícias desta descoberta se expandirão mundo afora. Talvez esse “despertar” possa ser um dos ingredientes para tornar o mundo um pouco melhor. Assim como disse Rubem Alves:

Minha infância foi uma infância feliz. [...]
Não era preciso dizer os nomes dos deuses nem eu os sabia.
O Sagrado aparecia, sem nome, no capim, nos pássaros, nos riachos,
Na chuva, nas árvores, nas nuvens, nos animais,
Isso me dava alegria!
Como no paraíso [...]

terça-feira, 21 de junho de 2011

Na rodoviária, o abandono...

Ela estava sentada no banco da rodoviária naquela madrugada fria. Não me recordo o dia da semana. A manhã estava cinzenta, um tanto que deslocada do tempo. Apressado eu estava, mas aquele olhar triste me chamou a atenção e me fez parar por um instante e refletir. De onde vinha aquela criatura? Que histórias ela tinha para contar?

Seus cabelos brancos denunciavam experiência de vida. As mãos calejadas demonstravam longos tempos de trabalho intenso, a fim, talvez, de manter o sustento dos filhos. Será que ela tinha filhos? Por que será que estava ali, abandonada no frio? O que tinha deixado para trás? Será que alguém um dia já parou por um momento e a olhou nos olhos, como eu fiz naquele instante, mesmo que de forma rápida?

Na rodoviária vidas se cruzam de forma absurdamente veloz. Histórias de vida se esbarram toda hora! É um ir e vir permanente, no qual as pessoas chegam e vão embora... Medos, frustrações, alegrias e tristezas se confluem em uma confusão cósmica completamente surreal. Na rodoviária a vida se dá de forma desconecta e efêmera. Mas aquele rosto me cativou... Me fez parar pelo caminho corrido do meu dia e simplesmente contemplar. Foi rápido, mas a contemplei.

Contemplei seus cabelos brancos. Contemplei seus olhos marejados (o que será que já viram?). Contemplei sua frágil pele (o peso dos anos evidenciava-se). Devolvi a ela a condição de ser humano, pelo olhar humano que a concedi. A enxerguei com dignidade e respeito. Procurei imaginar o que já plantara e colhera nos jardins da vida, buscando respostas internas para os motivos que ocasionaram o extermínio de suas flores.

Ao compreender a fragilidade daquela mulher, me dei conta também de minha própria fragilidade. Tenho limitações inerentes a qualquer ser humano que sente vontade de mudar o mundo, mas não é capaz de fazê-lo. As faces do abandono daquele ser talvez sejam reflexos de uma sociedade injusta e excludente. Ou, talvez, seja motivo de desilusões da vida. Pois como diz a música, “cada um sabe a dor e a alegria de ser o que é...”

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pedaços de vida em minhas mãos



Meu desejo era agarrar nos braços dela e puxá-la de volta para a vida. Os últimos acontecimentos a fizeram sucumbir num estado de letargia outrora jamais experimentado. Antes dona de si, agora estava completamente derrotada. O motivo: roubaram dela sua essência, suas cores... A sequestraram simbolicamente, o que chega a ser mais abominável do que o sequestro físico. Quando se trata de sequestro da subjetividade, não existe valor que pague o resgate.

Ela e eu somos dois em um só ser. Nossas vidas se misturam a ponto de eu, inexplicavelmente, sentir as dores dela. Ela está em minhas mãos. Sou o responsável por redigir os versos que influem na vida dela. Sou dono dela. Se ela sucumbe neste momento, não existe outro culpado na história a não ser eu mesmo. O sentimento que tenho com relação a ela: pena. A meu ver, se trata de uma figura digna da mais sincera piedade, pois está em minhas mãos. Ao mesmo tempo em que quero tomá-la em meus braços como uma mãe embala um filho, tenho vontade de abandoná-la na escuridão, para depois ter a oportunidade de chacoalhá-la e agredi-la para que acorde para a vida.

Minha criatura sofre por minha causa, mas, não me sinto culpado por ter seu destino em minhas mãos. Para alguns isso pode ressoar como um sentimento sádico de minha parte, porém, minha falta de piedade com relação a esta criatura se deve única e exclusivamente pelas características dela que se assemelham a mim. As fraquezas dela são minhas fraquezas. Isso me causa angústia. Raiva.

A personagem que construí era dona de si. Sensata, perspicaz e inteligente, esbanjava simpatia e brilho por onde quer que passasse. As pessoas se sentiam bem ao estarem a seu lado. Desejavam tê-la como amiga, psicóloga, companheira. Todos tiravam proveito de sua inteligência ímpar e inestimável.

Gradativamente estas virtudes se transformaram na grande desgraça de minha criatura. Seu encanto a impedia de conquistar o amor. Todos a superestimavam como a pessoa perfeita. Tais rótulos foram os motivos de sua solidão. De tão perfeita que era, acreditava que tinha o direito de ser amada. Ela tinha amor para dar. E desejava depositar suas doses de afeto em alguém. Entretanto, jogaram seu amor às traças, que o corroeram.

Minha criatura era tão peculiar que tudo o que sentia, sentia em dobro. Era toda essência, toda sentimento. Se era para ser feliz, ficava feliz em dobro, mas, se a tristeza batesse à sua porta, ela escancarava para que a maldita entrasse e roubasse cada espaço dos cômodos de sua alma. Tola. Pobre tola...

Fraca. Ah, como minha criatura era paradoxal. A criei imponente, mas preferiu dar espaço para que roubassem dela o que tinha de melhor. Suas melhores cores foram levadas embora. Tornou-se inteira preta e branca. Incolor.

Como criador o que me resta fazer? Chacoalhá-la e trazê-la de volta para a vida. Reanimá-la. Apresentar um novo jardim cujas flores estão se abrindo para o sol. E dizer baixinho eu seu ouvido coisas do tipo: “você tem muito a oferecer... Feliz daquele que puder desfrutar de seu amor... O mundo precisa de você...”

Enfim, sou responsável pelo destino desta pobre criatura que desfalece sem brilho. Tolhi seu direito à vida, mas prometo reanimá-la aos poucos. Já tenho as tintas necessárias para devolver suas cores. Grande responsabilidade. Bela dádiva. Sou escritor de vidas...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nossas Palavras...


Palavras... Palavras transformam. Palavras têm o poder de expressar sentimentos verdadeiros, aqueles oriundos da alma. No entanto, Palavras são dialéticas. Ao mesmo tempo em que são vastas e profundas, são limitadas. De paradoxos são feitas as Palavras...

Se existe no mundo uma forma de se atingir o espírito, isto se dá por meio de Palavras. Foi este artifício utilizado até mesmo pelas primeiras civilizações, que utilizaram a Palavra de Deus para atingirem objetivos previamente traçados. É verdade que Palavra tem poder. Palavra pode manipular... Pode encantar... Mas também pode desencantar...

Para os poetas, as Palavras são ferramentas de trabalho. Para se praticar tal ofício, é necessário saber manejá-las com afinco. Palavras não são manipuladas manualmente, pelo contrário, apenas sentimentos podem agarrá-las e distribuí-las em seus devidos lugares...

Palavras são perigosas. Se colocadas em lugares errados então, nem se fala! O segredo que habita a essência das Palavras pode ser desvendado por meio da interpretação. Infelizmente não são todos os seres humanos que detêm a efetiva capacidade de interpretar. Interpretação requer, sobretudo, humanização. E, claro, sabemos que as pessoas são limitadas, assim como as Palavras. Limitação esta que se estende a capacidade de interpretar determinadas Palavras. Às vezes, o significado se encontra nas entrelinhas. E felizes são aqueles que conseguem captar as mensagens!

Arrisco-me a me colocar defronte as Palavras... Posso manejá-las à medida que meus sentimentos interagem e me conduzem a escolher aquelas que realmente possam expressar minha essência. É sinérgica a forma pela qual esboçamos, nas entrelinhas, as mensagens que queremos transmitir aos quatro ventos.

Experimentar a sinergia requer um pouco de esforço... É necessária a capacidade de arrancar o véu que embaça a visão... É preciso ambivalência: a capacidade de olhar para todos os campos da visão. Mas, não basta olhar com os olhos, é preciso olhar com o coração, para que a verdadeira Palavra possa agir: a Palavra de cada um/a de nós...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Janela


Sozinha estava ela parada na janela vendo a vida passar. O tédio havia tomado conta daquele pobre coração abandonado... Tivera tudo. Hoje, não tinha nada. Sua única alegria era ver as folhas secas sendo derrubadas pela força do outono frio. Ah, outono... O outono e suas recordações... Para ela, esta estação era um misto de alegria e tristeza.

Recordava-se de passagens de vida que vinham como flashes em sua mente. Momentos que contribuíram para a construção de uma personalidade excêntrica e solitária. No passado, houvera redenção, pois acreditava em sonhos. Hoje, restam apenas esperança de que o final da caminhada se aproxima. A crença de outrora, na qual confiava na luz que emana das trevas, deu lugar a um ceticismo pessimista sem perspectiva de futuro.

Ela havia traçado projetos que valiam mais do que sua própria vida. Mas, no decorrer dos dias, percebeu que caminhava sozinha e em direção contrária aos acontecimentos. O mundo havia se transformado em um verdadeiro caos. O fato de caminhar na direção oposta a levou a ser taxada como maluca, o que de fato aconteceu. Tornou-se sozinha e maluca!

Agora, restava apenas esperar... Esperar eternamente por algo que, acreditava ela, haveria de surgir... Uma espera cruel e cansativa, porém necessária. Mas o que a mantinha firme, ali em frente à janela, eram nacos de esperanças que brotavam de dentro da alma como uma pequena chama prestes a ser apagada, mas que ainda aquece... Utopias de um dia fazer valer à pena... Ela descobriu o valor de uma janela: ali, estática, sempre vendo a vida passar; ela não queria ser uma simples janela... Queria poder pular e transformar o ciclo natural da vida. Ela queria apenas ser mais... E este desejo a consumia!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Entre Escolhas e Marcas. De como vou compreendendo a essência...

A vida é uma caixinha de surpresas. Perdão começar um texto com um pensamento tão comum e simplista. Isso pode até desanimar e induzir o leitor a parar a leitura por aqui mesmo. Mas esta frase revela dimensões grandiosas. É... De surpresas a vida se faz! Somos surpreendidos em todos os momentos, sendo que os maiores responsáveis por estas surpresas somos nós mesmos. Basta que nos deparemos com possibilidade de fazer escolhas. E que haja discernimento! Uma das maiores dificuldades do ser humano, a meu ver, é escolher!

O raciocínio é simples. Imagine-se na seguinte situação: uma longa estrada. Logo à frente, uma placa com duas flechas indicando a possibilidade de seguir a estrada da direita ou da esquerda. O resultado disso: muita confusão! Esse atordoamento mental acontece devido às limitações enraizadas em cada ser humano, sendo a maior delas o medo de errar. Não seria para menos, visto que alguns erros podem repercutir por toda uma vida. Basta escolher o caminho errado.

Durante as fases da vida, somos levados a fazer escolhas. Isso é inevitável. Algumas dessas escolhas vêm mascaradas com a possibilidade de partida. Trilhar novos rumos passa a ser inevitável, visto que o ser humano tem a capacidade de sempre buscar ser mais. Mudanças, despedidas e dor são termos que se combinam.

Como uma viagem de trem, é a vida. Constantemente chegamos à estação, deixamos o vagão e novos aventureiros seguirão viagem. Subimos em outro vagão para trilharmos outro caminho e, no percurso, encontramos outros viajantes, que passarão a compor nossa história, deixando marcas. Inevitavelmente, ao término dessa viagem, chegamos ao destino e buscaremos outro rumo, deixando para traz aqueles que conhecemos, levando no coração somente as marcas que deixaram... Assim é o ciclo da vida. Se repete a cada instante.

Ao nos depararmos com a possibilidade de escolhas, devemos criar forças. Uma força que brota do mais profundo âmago da alma, que nos leva a nos desprender de ideologias enraizadas. Escolher pressupõe mudança de atitude e desprendimento. Requer esvaziamento de ego. Requer, sobretudo, desapego.

Devido à necessidade de mudar, as relações se tornam cada vez mais descartáveis, visto que as pessoas apenas passam por nossas vidas. Entretanto, as marcas que deixam duram eternamente.


Maria Rita expressa o "Destino" como ninguém na canção abaixo... Confira e sinta...


domingo, 3 de abril de 2011

Espelhos da Alma


Um olhar transborda de significados. Como espelhos, os olhos refletem as profundezas da alma. Olhares são capazes de cativar e demonstrar o estado de espírito de cada um/a. Para os que sabem interpretá-los, os olhares dispensam palavras. É tarefa árdua traduzir um olhar. Esta tradução requer doses de sensibilidade e autoconhecimento.

Aquele olhar, em especial, pegou-me em um ímpeto de distração e arrastou-me para dentro. Naufraguei no mar atordoado daqueles olhos cheios de mistério. Quase me afoguei. Fui tentado a desvendá-los milimetricamente. A sedução daquele singelo olhar era capaz de superar até mesmo os encantos de Afrodite. Em um convite tentador, me fez mergulhar em um mundo repleto de significados, significâncias e vivências. Quis explorá-los a fundo, mas frustrei-me. O ser humano é um ser de grandeza incomensurável e, portanto, incapaz de ser compreendido em sua totalidade.

O encanto talvez tenha se originado do fato de que, de tão cristalinos, aqueles olhos faziam refletir minha própria imagem. O ser humano carrega em si fortes doses de um narcisismo extremo. Seria hipocrisia dizer que não somos fascinados por nossa própria imagem. Enxerguei a mim mesmo ao me prostrar defronte àqueles olhos amendoados e amedrontados. Olhos de paz, aconchego e acolhida... Olhos reveladores...

Aqueles olhos... O que será que já presenciaram? Pode ser que foram lentes de intensos acontecimentos, registrando fatos que estavam lá, guardados na memória daquela pessoa detentora de tão fascinante e intenso olhar. Pelos olhos, aquele ser era o que era... Pelos olhos, sua vida tinha significado. Os olhos ajudaram a ser quem era e continuaria a ser elemento primordial para a continuidade da construção do ser... Um simples olhar... Uma janela para a alma...


domingo, 20 de março de 2011

Leite e Mel

Às vezes penso que o mundo seria menos conturbado se o transformássemos em poesia. Se buscássemos em nosso íntimo a essência de nossos sentimentos e tivéssemos coragem e ousadia de extrair beleza dos momentos conturbados, seria mais fácil viver. No entanto, infelizmente a tendência típica do ser humano é colocar mais água onde a enchente já submergiu, aumentando assim o caos. A tranquilidade é uma virtude difícil de ser encontrada, pois se esconde em nós mesmos, em algum lugar inóspito. De tão inóspito, chega a ser aterrorizante pensar em explorá-lo.

Não é exercício fácil de ser feito, porém é necessário que saibamos silenciar nossos corações a fim de tentar entrar em contato com nosso eu interior. O silêncio faz bem, é terapêutico. Ao contemplar o silêncio, temos a capacidade de praticar as mais sublimes experiências. Somos capazes de nos desprendermos de nosso ego, buscando alcançar um novo jeito de ser.

Os diferentes estágios da vida exigem transformação e não é novidade para ninguém que tudo o que é novo gera certa apreensão. É normal temer o desconhecido. Todavia, é conhecendo o novo que nos desprendemos de ideologias enraizadas, mesquinhas e maniqueístas. O verdadeiro sábio é aquele que possui a convicção de que seus ideais são efêmeros, a ponto de serem transformados quando se tornarem obsoletos, dando espaço a outra forma de pensar.

Vivenciamos um período no qual a sede pelo conhecimento se tornou realidade. O povo passou a querer ter voz e vez nas tomadas de decisões capazes de modificar a realidade. Felizmente os algozes repressores, aqueles que detêm a maior camada do bolo social, estão perdendo espaço. A pedagogia do oprimido, utopia de Paulo Freire, vem se concretizando conforme o tempo passa.

Sonho com o dia em que as relações serão pautadas no respeito mútuo. Sonho com o momento em que poderemos encontrar a “terra prometida”, em verdadeiro processo de êxodo, rumo a terra onde jorra leite e mel. Nesta terra, mundo sonhado por mim e por tantos e tantas, tudo seria embasado no sonho louco dos poetas, no qual tudo gera beleza: as tristezas, as dores e, principalmente, as alegrias.

É no silêncio que eu, arquiteto de mim, desenho este novo mundo... Porém desperto: algo acontece lá fora. Saio de minha torre de marfim e volto à realidade. Lá no recôndito de meu ser prevalece uma pequena brasa esperançosa, prestes a incendiar-me por completo...


Sonhos e ideais estão refletidos também na arte... Preste atenção nesta belíssima letra: "Eu... Caçador de mim". Caço-me a todo instante...


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

De como mudei o percurso...



No clássico romance “Dom Casmurro”, Machado de Assis faz uma interessante observação quando afirma que é possível “ligar uma ponta a outra da vida”, no caso da obra, infância e velhice. Isso me fez pensar que a vida passa depressa e que viver é um grande desafio. Desafio árduo, na maioria das vezes.

De uns tempos para cá, tenho percebido que sei muitas coisas na teoria. Sei passar longas e cansativas lições de moral nas pessoas a minha volta. Vira e mexe vem alguém fazer uso de meus dons de psicólogo sem formação em Psicologia. No entanto, sou um teórico que possui extrema dificuldade em aplicar simples conceitos na prática.

A fórmula de meu sofrimento é mais complicada do que uma equação matemática. Tente entender, o motivo de minhas angústias encontram-se sempre no fato de ter que fazer escolhas que poderão incidir diretamente em algo já consolidado na minha vida.

São dois caminhos a seguir. Distintos em si, mas que podem transformar meu percurso. De um lado, aquilo que sou. Do outro, aquilo que posso vir a ser. Neste caso, uni duni tê não resolve. A emoção, tampouco. Preciso agir com uma razão fora do comum. Resultado: possibilidade de sucumbir em angústia!

No entanto, uma luz sempre me guia. A resposta está em mim, cabe parar, refletir, saber ouvi-la e compreendê-la. Desta vez a voz que daria a resposta berrava dentro de mim, mas eu fingia que não a escutava. O que me preocupava em atender ao clamor daquela voz era o que as pessoas ao meu redor iriam pensar. É típico do ser humano depositar expectativas nos outros. Tanto é que, de tanto se preocupar com a vida alheia, determinadas pessoas esquecem-se de viver. Machado também fala sobre isso quando relata que a mãe de Bentinho preconizara o futuro de seu primogênito antes mesmo deste nascer, prometendo aos deuses metê-lo no seminário.

Mas ganhei coragem e decidi ouvir a voz de meu coração (a voz que vem da alma) e não os murmurinhos do mundo afora.

Simplesmente adiei alguns planos. Na verdade, meu objetivo foi dar lugar a outros muitos planos que há tempos sonho em colocar em prática. Quem realmente me entende, aceita. Quem não me atende, pode pensar que sou tolo ou algo assim... Paciência. Apenas eu e somente eu sei o motivo de minha escolha. Uma coisa é certa: não desisto facilmente de meus sonhos... E são muitos!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Burocratização da Vida

Confesso que possuo certa dificuldade com relação à burocratização da vida, acentuada pelo advento da mercantilização do ser humano. Na estúpida ótica capitalista, as pessoas passaram a ser vistas como meras geradoras de lucros e prejuízos. Enquanto isso, a dimensão humana de cada um cai no esquecimento. Daí provém a triste realidade: em alguns lugares, as pessoas são enxergadas como máquinas produtoras.


Para sobreviver no mundo em voga, é preciso que tenhamos certo “jogo de cintura”. Caso contrário, somos cortados pela raiz. Cabe-nos então vestir a máscara e aderir ao sistema. É muito simples, porém, paradoxalmente, árduo ao extremo. Durante todo o dia somos obrigados a vestir uma carapuça que esconde o que realmente somos. A partir daí, toda uma ideologia construída no decorrer de anos, passa a ser ocultada, dando lugar a uma personalidade diferente que parece ser controlada por controle remoto, visto que repete dogmas de forma metodologicamente compulsiva.


Infelizmente é necessário se adaptar, por mais difícil que seja. Tenho certa dificuldade em ignorar a dimensão humana dos fatos e considerar as pessoas apenas como bonecos manipulados que geram lucros.


Ao que parece, considerar a condição humana dos seres humanos é atributo de estudiosos de ciências humanas. Infelizmente os estudiosos das exatas foram condicionados a comportarem-se como máquinas e, por consequência, consideram o mundo a sua volta como tal. Longe de externar preconceitos. Não se trata de visão preconceituosa aquilo que experiências empíricas comprovam.


A sensibilidade das pessoas é expressa quando estas demonstram a capacidade de ler bons textos, ouvir boas músicas, assistir a bons filmes... E não simplesmente a lidar com números, valores e fórmulas... A essência humana é subjetiva, portanto, compreendê-la é privilégio de poucos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O tempo e suas loucuras. De como escrevo versos no livro da vida




Para meu desespero, percebi que o tempo passa rápido demais. O pior de tudo é que não podemos contê-lo. À medida que age, não há meios de segurá-lo. Pará-lo é impossível. Torná-lo mais vagaroso então, é utopia. Conforme passa, vem a inevitável ação sobre nós, homens. O transcorrer do tempo nos força a mudar de fase, o que inevitavelmente gera apreensão, angústia, medo. No entanto, por sermos condicionados a progredir, precisamos nos adaptar às agruras do tempo e aceitá-las. Cabe-nos, portanto, escrever primorosos versos no livro da vida.

Confesso que toda essa loucura me aflige. Olho para as pessoas a meu redor e vejo os estigmas produzidos pelo tempo. Mas, o mais perturbador: tenho espelhos em casa. Espelhos são como mediadores entre nós e a realidade. Ao olharmos, constatamos que o tempo também incide sobre nós. Seres humanos que somos, sofremos. Vivo, logo sofro. Porém, às vezes é tão fácil conter sofrimentos... Mas gostamos de sofrer; é inerente ao homem transformar goteiras em tempestades.

Chego ao final de mais uma fase. O medo de não sei o que é inevitável. Tenho medo, precisamente pela existência da expressão “não sei o que”. Nunca gostei de incertezas e muito menos de mudanças bruscas. Mas uma coisa eu sei: fiz tudo direitinho. No decorrer destes quatro anos de faculdade de jornalismo, passei por intensos processos de transformação (o tempo proporcionou alguns deles).

Dentre minhas várias manias, tenho uma em especial: demoro a pegar no sono. Enquanto ele não vem, fico matutando, matutando e matutando. Matuto sobre minha vida, sobre a vida dos outros, sobre a vida em si. Os minutos antes de dormir são aqueles nos quais posso arrancar as máscaras e ser eu mesmo. É meu momento. Um dos únicos em que tenho o privilégio de encontrar a mim mesmo.

Voltando a história da mania (me empolgo quando escrevo), a principal dela consiste no fato de fazer balanços gerais sobre minha existência. De uns tempos para cá isso tem se tornado frequente, talvez seja pelo momento de transição, enfim. Quem sou eu, o que fiz até o momento, a que vim, etc, etc, etc, são pensamentos envoltos nestas filosofias precedentes do sono. É meu momento de olhar para trás e ver que o tempo passou. É a hora em que vejo de longe o garoto assustado que outrora pisou pela primeira vez em um mundo diferente do que conhecia. É a vez de pensar sobre as pessoas que passaram pela vida deste garoto e depositaram algo de bom. Enfim, é o momento propício para agradecer a Deus e ao universo por ter vivido e chegado até aqui.

Aconselho a todos que tirem um tempinho pra pensar sobre a vida. Tais pensamentos cessam, pelo menos um pouco, a aflição gerada pela passagem do tempo. Inevitável que é, garante-nos a possibilidade de aproveitá-la ao máximo, plantando sementes que se tornarão suculentos frutos. Colhê-los é opção nossa; deixá-los apodrecer, também. Penso que tenho colhido os meus... Afinal, sempre fui um idealista... Talvez seja esta minha principal fraqueza: acreditar demais. Ou talvez seja qualidade, sei lá... Só sei que penso, logo escrevo e logo sofro...

Continuarei assim. Estou virando as páginas do livro de minha história consciente de que o autor principal sou eu mesmo. Novas conquistas estão por vir! Sejam bem vidas! Chegar até aqui foi uma grande vitória. Aprendi muito.

sábado, 25 de setembro de 2010

Da capacidade de tecer o próprio mundo...




“Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
[...]Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.”



O trecho faz parte do primoroso conto de Marina Colasanti intitulado “A Moça Tecelã”. O texto, extremamente dotado de sensibilidade, apresenta uma jovem que costuma tecer exaustivamente. Ela tece, tece e tece. A máquina de tecer é sua única e mais fiel companhia. Eis que certo dia a moça descobre ser detentora de um dom muito especial: seus sonhos poderiam se tornar realidade por meio dos fios de sua máquina de tecer, isto a faz construir um mundo ideal a sua volta.

Ela tinha tudo. Porém, ao sentir-se dominada por uma desamparada solidão, resolve criar um marido, utilizando-se dos fios mais fortes, belos e nobres. Surgem muitos planos e sonhos. Ela idealiza uma vida perfeita ao lado do companheiro desenhado conforme seus ideais.

O homem, no entanto, ao perceber a habilidade da moça, cresceu em ambição, mal que o levou a trancafiá-la e exigir coisas absurdas. O tão desejado amor não mais existia. Tornou-se pesadelo.

Perspicaz, a moça decide desfazer-se de toda a riqueza inútil e do próprio companheiro que outrora criara por meio de seus fios. Ela destece tudo e reencontra a felicidade, escondida no canto dos pássaros durante a manhã, no balançar das árvores e em toda a simplicidade que a envolvia, mas que havia sido esquecida mediante a riqueza e a maldade do opressor.

O conto nos leva a refletir sobre questões tangíveis à condição humana. Muitas vezes construímos imagens ideais do mundo que nos cerca. Mas o que não percebemos é que aquilo que seria “ideal” nem sempre é o “certo”. Na qualidade de seres pensantes, temos o magnífico dom de tecer nosso próprio mundo. O tecemos a nossa maneira. Prescindimos, no entanto, do real valor significativo das pequenas coisas; esquecemos da simplicidade que gratuitamente embeleza cada instante.

A busca pelo sucesso nos leva a, incondicionalmente, buscar a perfeição. Ao exigirmos muito de nós mesmos passamos a ignorar o mundo que nos cerca. É válido reservar alguns instantes para destecer um mundo idealizado e passar a confrontar a realidade tal como ela é. Deixar, ao menos um pouco, de viver utopicamente pode ser válido e é um bom passo para a busca da tão almeja felicidade, aspirada por todo ser humano. Somos tecelões de nossa própria história. Saibamos selecionar fios nobres e consistentes. A escolha é nossa...

domingo, 19 de setembro de 2010

Me apaixonei por Clarice Lispector. Ela apareceu meio que por acaso em um momento de minha vida no qual suas palavras agiram terapeuticamente. Mulher de garra, mulher sensível, mulher batalhadora. Mulher. Simplesmente mulher. Cada palavra sua tem a capacidade de tocar profundamente no coração. Ela consegue limpar as impurezas que surgem e afligem este músculo tão necessário a nossa existência.

Para Clarice, tudo é possível. Por meio de seus dizeres sublimes, uma tal Macabéa pôde acreditar em si mesma, mesmo após a barbárie, conquistando seu lugar... sua estrela.

Ao ler Clarice, penso que é possível tocar as estrelas do céu. Ela transmite confiança em mim mesmo. Ela consegue fazer germinar as sementes do bem que possuo em mim mesmo. Ela faz brotar de mim aquilo que tenho de melhor, e transmitir ao mundo meus mais genuínos sentimentos...

Dedico este espaço à Clarice: poetiza... Mulher...




Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.

Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.

Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.

Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.

Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

domingo, 12 de setembro de 2010

Primeiros Versos (3)

Este espaço se dedica ao relato de imagens observadas no cotidiano...



Lá estava ela sentada na varanda vendo a vida passar. Retratos do passado a atormentavam, ao mesmo tempo em que a faziam recordar bons momentos vividos. Realidade distante era o sorriso que carregava nos lábios. Sorriso farto, acolhedor, fraterno e compassivo. Tudo mudou... As gargalhadas deram lugar a um ar sombrio, cansado, lúgubre.
As imagens de outrora foram apagadas desde o momento daquela partida... Viver, então, tornou-se para aquela criatura apenas uma obrigação. Martírio. Como mais um corpo inerte fadado ao fracasso, costuma plantar a cada instante as sementes do desespero e da angústia. Há de colhê-los...

domingo, 5 de setembro de 2010

Tempos de Inocência...

Hoje resolvi me livrar das coisas supérfluas do passado. Nada melhor do que reservar um tempinho para remoer coisas antigas. Encontrei resquícios de um tempo bom no qual imperava a inocência de um jovem estudante sonhador. Textos, imagens, desenhos... Tudo revela os sonhos daquela criança que ficou para trás. É incrível notar como o pensamento e as ideias evoluem! Realmente a lei natural das coisas de fato existe. Jamais seremos hoje o que fomos ontem.

Ao vasculhar as páginas de um velho caderno percebi o início de minha vocação para a área de humanidades. Enquanto as atividades avaliativas de matemática oscilavam com notas satisfatórias apenas para se “passar de ano”, as referentes à português e literatura eram acompanhadas de imensos recados elogiosos de meus mestres... Penso que certas destrezas são dons inatos.

Como já disse Rubem Alves, “todo texto prazeroso conta uma mentira. Ele esconde as dores da gestação e do parto”. Era justamente isso que eu fazia no passado: inventava realidades; divulgava no papel aquilo que gostaria de viver e que as pessoas vivenciassem... Talvez fosse isso que me proporcionava tanto prazer pela arte de escreve: sonhar, descobrir mundos, dar possibilidades... Que bons foram os tempos de inocência... Mas tudo muda... Tudo passa...Nada será do jeito que já foi um dia...


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Primeiros versos (2)...



Teu olhar é indecifrável para mim. Eu que sempre me gabei de ter o dom especial de ler as pessoas, encho-me de frustração cada vez que me deparo contigo... Sinto-me um mero leigo no que tange a sentimentos. Esvazio-me de mim mesmo quando estás a minha frente. Anulo-me enquanto pessoa e me torno um apaixonado fadado ao fracasso. Em momentos de fraqueza, pelo fato de não encontrar respostas a meus porquês, resta-me inundar-me em prantos. É o único meio de cessar meu pobre coração das fagulhas que o queima.

Ao ironizar o amor, pensei que ademais pudesse vir a ser vítima deste algoz. Percebo agora que até o mais forte e cruel dos seres está propício a sofrer com os golpes deste carrasco... Não é porque a gente quer... Isso acontece por acaso.

A partir do momento em que arranco de mim a tinta com a qual me pintaram os sentidos, cabe-me ater-me a outras coisas, mudar o foco de meus pensamentos, libertar-me de ti. No entanto, tu sempre vens atormentar-me. Até mesmo meus sonhos não estão livres de você...

Resta apenas respeitar o mandamento do senso comum que reza que as coisas têm o tempo certo de acontecer e o que tiver de ser, será? Se esta profecia for verdadeira, peço somente paciência e compaixão... Só quero uma resposta... Só quero um retorno a meu imenso amor...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Primeiros versos (1)...




No fundo do poço. Assim estava ela. Seu pensamento atinha-se unicamente a um objetivo: dar fim ao legado de sua miséria. A desgraça corroia-lhe cada milímetro de seu corpo. Não tinha mais vontade de nada. Outrora, era bem sucedida e amada. No entanto, tais regalias converteram-se em mero abandono. Jogada às traças. Humilhada. Ferida. Haveria uma nova chance para consertar um equívoco do passado?


Como pudera o sucesso que demandou inúmeros anos para ser conquistado desabar em apenas um deslize?! Nada mais tinha sentido. Tudo estava consumado. No entanto, a perda de dinheiro e status não a afligia tanto quanto a perda daquele a quem depositava todo o propósito de seu destino. Ela se deu conta de que o amor nada mais é do que um simples jogo de conveniências. Afundada em pensamentos de descrença, o único destino favorável a ela foi livrar-se dela mesma, um verdadeiro encargo para a sociedade...


Em um ímpeto de coragem decidiu cavar a própria sepultura. Subiu encima da mesa... Enrolou uma corda no pescoço, amarrando a mesma no teto... Por um minuto, recordou-se dos velhos tempos de infância, único período de sua estúpida vida no qual se sentira feliz. Infelizmente, pensava ela, a incrível máquina do tempo era mera utopia; os momentos bons eram apenas arquivos mortos em sua memória. Estavam apagados em algum tempo bastante remoto. Pensou em desistir do ato e dar a volta por cima; mas... um ato de coragem e bravura compensaria toda a inutilidade de seu ser... Pulou. Não restava mais nada... Findou um ciclo de amargura. Apagam-se as luzes...

sábado, 12 de junho de 2010

Reflexões: Em Construção...




Conturbados. Assim têm sido meus dias de uns tempos para cá. Faculdade na reta final, trabalho... Enfim, diversos afazeres têm ocupado meu tempo de modo a me impossibilitar de atualizar este espaço que me proporciona tanto prazer. É de conhecimento geral que a maior paixão de um futuro jornalista é a possibilidade de se expressar de forma independente, sem o crivo das limitações impostas pelos editores. O blog é uma das poucas alternativas para se expressar livremente e fazer valer a hipótese de que jornalistas são escritores / pensadores.

Hoje me arrisco a escrever sobre um tema que me gera muitas indagações e revolta: a hipocrisia da sociedade e as contradições das relações cotidianas (males dos quais também sou vítima). Não é segredo para ninguém que absolutamente todas as pessoas utilizam máscaras nas vinte e quatro horas do dia. Não há mais espaço para a autenticidade. A não ser no momento escatológico, a maior parte das pessoas engana-se a si mesmas impondo realidades completamente arquitetadas, a fim de se adaptarem as convenções sociais. A autenticidade pode ter um preço caro...

Imagine só a anarquia que o mundo se transformaria se todos resolvessem arrancar as máscaras... O senso comum que me perdoe, mas cabeças iriam literalmente rolar. Porém, somente a transparência limitaria o teor patriarcal das relações humanas e as hierarquias pautadas nos ideais de opressão.

Indivíduos completamente autênticos são rotulados como loucos e a consequência desta tal “insanidade” é a reclusão, visto que se acredita que eles podem causar sérios danos à sociedade. Tal demagogia não está completamente equivocada. Se os loucos resolvessem arrancar as máscaras de toda a sociedade, ninguém ficaria imune.

Infelizmente não se pode mudar uma realidade enraizada. As pessoas já nascem com a maquiagem que as adaptarão a sobreviver no grande palco da vida. Como verdadeiros palhaços que “pintam o rosto para viver”, necessitamos criar personagens que se adaptem às exigências impostas por alguém (um ser desconhecido que começou tudo isso). E eis que o mundo vai gradualmente se transformando em um imenso circo imundo...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Casas que Emburrecem

No dia 7 de fevereiro, véspera de meu aniversário de 21 anos, recebi uma homenagem muito especial! A equipe de amigos do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) resolveu fazer um ofício divido para comemorar quatro momentos muito especiais: meu aniversário; aniversário de Fernando Escodeiro; Doutorado de Áurea Esteves e a formatura de Hugo Tizura. Ao final do emocionante momento celebrativo, resolveram nos presentear de uma forma bem peculiar: com poesia!

Nossa amiga Fernanada Guilabel recitou lindamente a crônica "Casas que emburrecem", do mestre Rubem Alves. Muita gente não conseguiu conter as lágrimas, inclusive eu! Nada melhor do que ser presenteado com poesia!!!

Compartilho com vocês o texto de Rubem Alves!



"O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!"

Quem disse foi o Riobaldo, com o que concordo e também digo amém. Pois eu estava rastreando uns camundongos burros criados pelo prof. Tsien e umas teorias do prof. Reuben Feuerstein (pronuncia-se fóier-stáin) no meio de uma mataria de idéias quando topei com um menino de sandálias havaianas na porta do aeroporto de Guarapuava que fez minha rastreação parar. O que ele me pedia era mais importante, pedia que eu lhe comprasse um salgadinho para ajudar. Parei, comprei, comi, perdi o rumo, deixei de rastrear os camundongos do prof. Tsien e as teorias do prof. Feuerstein, entrei por uma "digressão", meu pensamento excursionou ao sabor das minhas emoções - mas agora estou de volta, o faro de cão rastreador afinado de novo.

Pois o prof. Tsien, da Universidade de Princeton, se deu ao trabalho de criar camundongos mais burros que os domésticos. Se você se espanta com o fato de um cientista gastar tempo e dinheiro para produzir camundongos burros, desejo chamar a sua atenção para o fato de que a burrice é muito útil, do ponto de vista político e social. Aldous Huxley afirma que a estabilidade social do "Admirável Mundo Novo" se devia aos mecanismos psico-pedagógicos cujo objetivo era emburrecer as pessoas. A educação se presta aos mais variados fins. Pessoas inteligentes, que vivem pensando e tendo idéias diferentes, são perigosas. Ao contrário, a ordem político-social é melhor servida por pessoas que pensam sempre os mesmos pensamentos, isso é, pessoas emburrecidas. Porque ser burro é precisamente isso, pensar os mesmos pensamentos - ainda que sejam pensamentos grandiosos. Prova disso são as sociedades das abelhas e das formigas, notáveis por sua estabilidade e capacidade de sobrevivência.

Os camundongos burros do prof. Tsien, confrontados com situações problemáticas, eram sempre derrotados pelos camundongos domésticos. Mas o objetivo da pesquisa era inteligente. O prof. Tsien queria testar uma teoria: a de que, se os camundongos burros fossem colocados em situações interessantes, estimulantes, desafiadoras, a sua inteligência inferior construiria mecanismos que os tornariam inteligentes. Em outras palavras: limitações genéticas da inteligência podem ser compensadas pelos desafios do meio ambiente. Assim, ele colocou os camundongos burros em gaiolas que mais se pareciam com parques de diversão, dezenas de coisas a serem feitas, dezenas de situações a serem exploradas, dezenas de objetos curiosos. Como mesmo os burros têm curiosidade e gostam de fuçar, os camundongos começaram a agir. Depois de um certo período de tempo, colocados em situações idênticas juntamente com os camundongos domésticos, os camundongos burros tinham deixado de ser burros. Não ficavam de recuperação.

Não conheço a obra do prof. Feuerstein. Suas teorias sobre a inteligência me foram contadas. Fiquei fascinado. Desejo que ele esteja certo. Pois o que ele pensa está de acordo com as conclusões de laboratório do prof. Tsien. Feuerstein tem interesse especial em pessoas que, por fatores genéticos (síndrome de Down, por exemplo) ou ambientais (ambientes pobres econômica e culturalmente) tiveram suas inteligências prejudicadas. Diante de testes o seu desempenho é inferior ao de crianças "normais". Sua hipótese, testada e confirmada, é que, se tais pessoas forem colocadas em ambientes interessantes, desafiadores e variados, a sua inteligência inferior sofrerá uma transformação para melhor. A inteligência se alimenta de desafios. Diante de desafios ela cresce e floresce. Sem desafios ela murcha e encolhe. As inteligências privilegiadas podem também ficar emburrecidas pela falta de excitação e desafios.

Isso me fez dar um pulo dos camundongos do prof. Tsien, as teorias do prof. Feuerstein, para as casas onde moramos. Nossas casas são um dos muitos ambientes em que vivemos. Cada ambiente é um estímulo para a inteligência. (É difícil ser inteligente num elevador. No elevador só há uma coisa a se fazer: apertar um botão...) . E pensei que há casas que emburrecem e há casas onde a inteligência pode florescer.

Não adianta ser planejada por arquiteto, rica, decorada por profissionais, cheia de objetos de arte. Não sei se decoração é arte que se aprende em escola. Se a decoração se aprende em escola, pergunto se existe, no currículo, uma matéria com o título: "Decoração de emburrecer - decoração para provocar a inteligência"... Essa pergunta não é ociosa. Casas que emburrecem tornam as pessoas chatas. Criam o tédio. Imagino que muitos conflitos conjugais e separações se devem ao fato de que a casa, finamente decorada, emburrece os moradores. Lá os objetos não podem ser tocados. Tudo tem de estar em ordem, um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar. Orgulho da dona de casa, casa em ordem perfeita.

Acho que foi Jaspers que disse que ele não precisava viajar porque todas as coisas dignas de serem conhecidas estavam na sua casa. Jaspers viajava sem sair de casa. Mas há casas que são um tédio: lugar para dormir, tomar banho, comer, ver televisão. Se é isso que é a casa, então, depois de dormir, tomar banho, comer e ver televisão não há mais o que fazer na casa, e o remédio é sair de gaiola tão chata e ir para outros lugares onde coisas interessantes podem ser encontradas. Sugiro aos psicopedagogos que, ao lidarem com uma criança supostamente burrinha, investiguem a casa em que ela vive. O quarto mais fascinante do sobradão colonial do meu avô era o quarto do mistério, de entrada proibida, onde eram guardadas, numa desordem total, quinquilharias e inutilidades acumuladas durante um século. Ali a imaginação da gente corria solta. Já a sala de visitas, linda e decorada, era uma chatura. A criançada nunca ficava lá. Na sala de visitas a única coisa que me fascinava eram os vidros coloridos importados, lisos, através do qual a luz do sol se filtrava.

Na minha experiência, a inteligência começa nas mãos. As crianças não se satisfazem com o ver: elas querem pegar, virar, manipular, desmontar, montar. Um amante se satisfaria com o ato de ver o corpo da amada? Por que, então, a inteligência iria se satisfazer com o ato de ver as coisas? A função dos olhos é mostrar, para as mãos, o caminho das coisas a serem mexidas. Acho que uma casa deve estar cheia de objetos para serem mexidos. A casa, ela mesma, é para ser mexida. Razão por que eu prefiro as casas velhas. Tenho um amigo que comprou um lindo apartamento, novinho, e morre de tédio. Porque não há, no seu apartamento, nada para ser consertado. Eu sinto uma discreta felicidade quando alguma coisa quebra ou enguiça. Porque, então, eu posso brincar...

Os livros precisam estar ao alcance das mãos. Em todo lugar. Na sala, no banheiro, na cozinha, no quarto. Muito útil é uma pequena estante na frente da privada, com livros de leitura rápida. Livros de arte, por exemplo! É preciso que as crianças e jovens aprendam que livros são mundos pelos quais se fazem excursões deliciosas. Claro! Para isso é preciso que haja guias! Cuidado com os brinquedos: brinquedo é um objeto que desafia a nossa habilidade com as mãos ou com as idéias. Esses brinquedos de só apertar um botão para uma coisa acontecer são objetos emburrecedores - aperta um botão a boneca canta, aperta outro botão a boneca faz xixi, aperta um botão o carro corre. Não fazem pensar. No momento em que a menina resolver fazer uma cirurgia na boneca para ver como a mágica acontece - nesse momento ela está ficando inteligente. Quebra-cabeças: objetos maravilhosos que desenvolvem uma enorme variedade de funções lógicas e estéticas ao mesmo tempo. Armar quebra-cabeças à noite: uma excelente forma de terapia familiar e pedagogia: o pai ensinando ao filho os truques. Ferramentas: com elas as crianças desenvolvem habilidades manuais, aprendem física e experimentam o prazer de consertar ou fazer coisas. A quantidade de conhecimento de física mecânica que existe numa caixa de ferramentas é incalculável. A cozinha aberta a todos. A cozinha é um maravilhoso laboratório de química. Cozinhar educa a sensibilidade.

Você nunca havia pensado nisso, a relação entre a sua casa e a inteligência, a sua inteligência e a inteligência dos seus filhos. Sua casa pode ser emburrecedora. Ou pode ser um espaço fascinante onde os camundongos do prof. Tsien repentinamente ficam inteligentes...