terça-feira, 10 de novembro de 2009

Imagens enriquecem informações

Uma imagem vale mais do qualquer palavra. O pensamento, que já se tornou senso-comum, tem fundamento. É impossível, atualmente dissociar imagem e informação. São elementos que se complementam, de modo a tornar as notícias mais consistentes e próximas ao leitor. Além do mais, em meio ao corre-corre do dia a dia, tornou-se fundamental para os jornais prezarem pela eficácia das informações e uma forma de aprimorar o trabalho é a divulgação de boas imagens.

Para o fotógrafo da Folha da Região, Alexandre Souza, 38 anos, fazer boas imagens é questão de tempo. Ele acredita que a criatividade é um dom inerente a cada um, mas que se aprimora através da prática. “Só se aprende a fotografar fotografando”, disse em palestra direcionada a alunos de jornalismo de um centro universitário de Araçatuba.

Atenção para detalhes é praticamente uma obrigação que o profissional da área deve ter. “Não basta mostrar ângulos que todos veem, é necessário ir além, procurando sempre captar novidades que sirvam para subsidiar uma boa chamada de capa”, afirma. Para Alexandre, a cooperação com o repórter faz com que o material seja aprimorado, de modo que texto e imagem sejam relacionados.

Na palestra, Alexandre mostrou as imagens feitas por ele no decorrer da carreira. Há vinte anos atuando na área jornalística, já fotografou inúmeros e variados acontecimentos, que vão desde encontros políticos a acidentes de trânsito. No entanto, o que mais o agrada é a cobertura policial. “Gosto muito da adrenalina e da repercussão que esses fatos proporcionam”, justifica.

Quando cobre acontecimentos considerados importantes pela linha editorial do veículo no qual trabalha, Alexandre costuma fazer em média 120 fotos do fato, que serão selecionadas pelos editores. Como ele acredita que a imagem retrata o momento, é necessário ter atenção redobrada para que nenhum lance seja perdido. “Fotografias retratam o estado de espírito dos acontecimentos, portanto, deve-se aprimorar a criatividade.”

Histórico

No decorrer de sua experiência em jornais, Alexandre já atuou tanto na área impressa quanto na online. Começou aos 16 anos entregando jornais para o periódico “A Comarca”. Mas sua curiosidade despertou a atenção dos proprietários do jornal que logo o chamaram para compor a equipe. A partir daí, o “feeling” de Alexandre foi se aperfeiçoando a cada momento, através de experiências no “Jornal da Cidade” e na “Agência Interior”.

Souza terminou a palestra alertando aos estudantes de que a prática da fotografia é construída por meio da prática e que, sendo assim, nunca será 100% perfeita. “É com os erros que aprendemos. Basta prática e atenção à detalhes que ninguém consegue visualizar. Acredito que atualmente sei somente 60% de fotografia. O que resta, busco aprender através da prática cotidiana”, finaliza.


Texto produzido como Atividade Avaliativa da disciplina Jornalismo Online e Novas Tecnologias II, ministrada pelo professor e jornalista José Marcos Taveira.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dica de Cinema


Dogville: Repressão Social


Uma cidade surreal, mas ao mesmo tempo um retrato da sociedade contemporânea. Habitantes aparentemente agradáveis, mas que ao decorrer do tempo se mostram completamente insanos, ou melhor, humanos. Acrescente aí uma bela e misteriosa mulher fugitiva da máfia. Bem vindo ao excêntrico mundo criado por Lars Von Trier: Dogville.

Instigante, excêntrico e perturbador, o filme apresenta uma pequena cidade povoada por nada mais do que uma dezena de moradores. A história se passa na década de 1930, época na qual o mundo sofria as mazelas da grande depressão. Grace (Nicole Kidman), a jovem fugitiva, chega a Dogville completamente atordoada. Eis que conhece Tom (Paul Bettany), um introspectivo intelectual que lhe oferece abrigo. Como forma de pagamento pela hospitalidade oferecida, a moça faria trabalhos para os moradores da comunidade. No início tudo ocorre da melhor forma possível, mas a vida de Grace estava a um passo de se tornar um grande pesadelo.

Laços fraternos de amizade são construídos com os moradores de Dogville. Porém, conforme surgem algumas investigações por parte da polícia acerca do paradeiro da moça, o que se vê é uma absurda transformação de personalidade em cada um. O lado sombrio é retratado de forma sábia, denunciando o fato de o ser humano ser um rol de dualidades. Como se trata de Trier, não é preciso dizer o que Grace enfrentará no decorrer do filme. A temática apropria-se de conteúdos polêmicos como a restrição da liberdade, abuso sexual, trabalho compulsório, traição e sadismo.

O diretor tem uma capacidade ímpar de quebrar estereótipos impostos por produções hollywoodianas. Assim como em “Dançando no Escuro”, o lado sombrio das personagens, tal como suas friezas, dilui-se em enredos mesclados com drama e humor negro.

O que mais chama a atenção em Dogville é o ousado espaço cênico. A simplicidade é tanta que à primeira vista passa a impressão de que o orçamento da produção sofreu cortes. Mas a fórmula funcionou, visto que a singeleza aflora o estado de apreensão no espectador. Analisando o surrealismo cênico, pode-se denotar que a intenção do diretor foi equiparar a vida, bem como suas relações, a um verdadeiro teatro. Inteligente metáfora.

A mistura de elementos teatrais e literários sobrepõe-se a qualquer necessidade de cenografia. O cenário invisível, sem precedentes no cinema, proporciona uma vista geral dos coadjuvantes em cena, sem destoar da narrativa principal. Ao mesmo tempo, escancara a essência de cada personagem, levando o público a analisar com olhos clínicos a desumanidade que aflora no íntimo de cada um.

Diversas leituras podem ser feitas a respeito de Dogville. Cada espectador tira suas próprias conclusões ao analisá-lo. Não é um filme para ser visto apenas uma vez. A impressão que deixo, é que se trata de uma obra sobre o comportamento humano e suas discrepâncias. Faz pensar a respeito da vida em comunidade e nas aceitações de regras impostas por grupos. Desertores de leis, em qualquer sociedade, sofrem represálias. Em Dogville não é diferente. Mas até que ponto o respeito a dogmatismos não passa de mero jogo de interesse e de oportunidade para exteriorizarmos o que temos de mais sujo? É assistir para compreender.

Confira Trailer do filme: