 “As águas estão mais turvas, os
lagos menos calmos e as pedras cada vez mais escorregadias”. A metáfora
preconiza a obra “Águas Turvas (Editora Faces, 2012, 274 páginas), de autoria
do aclamado jornalista Helder Caldeira, que marca seu ingresso no universo
literário da ficção.
“As águas estão mais turvas, os
lagos menos calmos e as pedras cada vez mais escorregadias”. A metáfora
preconiza a obra “Águas Turvas (Editora Faces, 2012, 274 páginas), de autoria
do aclamado jornalista Helder Caldeira, que marca seu ingresso no universo
literário da ficção.
Narrado com sensibilidade exímia,
o livro apresenta a história de amor entre o médico brasileiro Gabriel Campos e
o empresário americano Justin Thompson. A relação entre eles é apenas pano de
fundo para se chegar ao cerne dos sentimentos mais profundos que existem nas
vidas de cada um. A narrativa se aproxima da jornalística, por ser objetiva e
evitar delongas. 
A obra não se perde em clichês,
costumeiramente utilizados em livros ou filmes de temática homossexual, que
apelam para a tragédia, dramalhão previsível e supervalorização dos atos
sexuais. A obra de Caldeira segue na contramão do que é comum, ao explorar a
singeleza dos sentimentos entre os dois homens e suas realidades. 
A ascensão e derrocada da família
Thompson em meio à crise que assolou os Estados Unidos em meados de 2009 é
narrada com requinte literário moderno. O leitor é imerso nos sentimentos de
cada personagem, analogamente retratados em contraponto à descrição das estações
do ano da bela cidade de Holden, nas colinas do Condado de Worcester, em
Massachussetts. Segredos, traições, patologias, perdas e recomeços são
apresentados como seixos rolados que, em meio às águas turvas, confundem o
campo de visão, porém, convidam a ser desvendados em sua essência. É uma obra
sinestésica, visto que o leitor experimenta cada sensação. 
Impossível não criar empatia com
o relacionamento de Justin e Gabriel. No entanto, dada a perfeição do casal,
leitores mais céticos hão de questionar: “amores como este só são possíveis em
obras de ficção”. O respeito e a cumplicidade entre o casal os tornam os
personagens mais íntegros da obra, estratégia talvez utilizada pelo autor para
romper paradigmas. 
A obra surpreende a cada página,
sobretudo pelo diferencial de ser embalada por uma trilha sonora escolhida com
perfeição, que vai de Pearl Jam a Bee Gees, o que ajuda a personificar a
narrativa.
O único clichê, talvez, está no
primeiro encontro de Gabriel e Justin, que reproduz a clássica cena dos romances água com açúcar protagonizados por Meg Ryan, no qual um dos protagonistas cai, levanta-se
lentamente e se depara com o olhar do outro, sendo esta a condição para aflorar
o tal “amor para toda a vida”. Este pequeno aforismo, contudo, não prejudica a
maestria da obra.
“Águas Turvas” proporciona ao
leitor um mergulho por intensos sentimentos. Uma obra que marcará a história
da literatura nacional.    
 
