sábado, 30 de julho de 2011

A imagem ideal do Divino

Antes de dizer amém em suas casas e lugares de oração, pensem, pensem e lembrem-se, existe uma criança ouvindo – Mary Griffity

Existe uma lógica que normatiza a expressão de nossa fé. Este costume nos é imposto desde o momento em que nascemos. Aprendemos os nomes de Deus, a temê-lo, a evitar que Ele nos castigue, a como experimentar nossa espiritualidade, enfim. Nossa relação com o divino é intermediada por meio de fórmulas prontas com as quais o diálogo com Deus é “facilitado”. Este tipo de religiosidade/espiritualidade revela uma lógica opressora, visto que nos aprisiona a nós mesmos, impedindo-nos de buscar o sagrado em sua verdadeira essência.

Nossa capacidade de descobrir a espiritualidade por meio do caminho da vida é cerceada à medida que nos é imposta a imagem de um Deus soberano, distante da realidade e todo-poderoso. Especialmente na infância, a imagem de Deus que é construída na mentalidade das pessoas é de um Pai austero que castiga seus filhos quando estes se desviam de regras tidas como verdades universais. Tal imagem é embutida no indivíduo, que cresce com esta visão do Sagrado. Este é um dos maiores causadores de toda a opressão que assola o mundo.

A existência de alguém que possui as rédeas da situação e a controla por meio de mecanismos opressores pressupõe medo e, por consequência, conformismo por parte da sociedade. A capacidade do ser humano de raciocinar, argumentar e se opor a preceitos impostos é subtraída.

A construção da imagem de um Deus opressor serve para esconder as opressões causadas pela própria humanidade. Colocar a culpa em Deus pelos equívocos e preconceitos sociais é mais cômodo. Sendo assim, instituições religiosas formulam suas prescrições a fim de edificar uma sociedade ideal para elas mesmas, isto é, benéfica para uma singela parcela da sociedade. O que é certo e o que é errado condizem unicamente com os ideais daqueles que controlam. O patriarcalismo impera.

No entanto, o que tudo isso tem a ver com a frase de Mary Griffity? É na educação nos primeiros anos de vida que a personalidade do ser humano vai sendo aos poucos moldada. A partir daí, o indivíduo cria capacidade e autonomia de discernir os caminhos a se seguir. Se continuarmos a dizer “amém” na frente das crianças a um Deus opressor, perpetuaremos a existência de uma sociedade que isola, exclui e prega preconceitos.

Por outro lado, se a imagem do divino for construída junto com a criança, a partir dela mesma e do universo no qual vive, os benefícios e as delícias desta descoberta se expandirão mundo afora. Talvez esse “despertar” possa ser um dos ingredientes para tornar o mundo um pouco melhor. Assim como disse Rubem Alves:

Minha infância foi uma infância feliz. [...]
Não era preciso dizer os nomes dos deuses nem eu os sabia.
O Sagrado aparecia, sem nome, no capim, nos pássaros, nos riachos,
Na chuva, nas árvores, nas nuvens, nos animais,
Isso me dava alegria!
Como no paraíso [...]

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito...