domingo, 18 de janeiro de 2009

Dica de cinema: "De olhos bem fechados"

Instintos à flor da pele

Profissionais da psicologia afirmam que a subjetividade humana é formada por três instâncias intituladas id, ego e superego. O ego corresponde ao próprio eu, que sofre as ações das demais instâncias. O id relaciona-se aos mais profundos e animalescos instintos; o superego, por sua vez, age de maneira a equilibrar o ego para que não sofra as conseqüências das ações do id. Mas às vezes, é difícil fazer com que os instintos dominados pelo id não sobressaiam às regras morais pré-estabelecidas pelo superego. Talvez seja este o motivo de todo o conflito que permeia um dos filmes mais polêmicos e perturbadores da história do cinema mundial: De olhos bem fechado (Eyes wide shut).

Gravado em 1999, o último filme dirigido pelo mestre Stanley Kubrick (de Laranja Mecânica e O Iluminado) narra os conflitos internos vivenciados pela sociedade americana. A partir do casal Bill Harford (Tom Cruise) e Alice Harford (Nicole Kidman), a antologia explora a deplorável condição do american way of life. Absolutamente todos se deixam levar pelos instintos, que são encobertos pela máscara de atores sociais.

Tudo começa a partir de uma confissão: Alice, sob o efeito de drinks e baseados, revela ao marido que já o traiu em pensamento; ela afirma que o desejo por um homem que a seduziu só não foi consumado devido ao fato de ela ser casada, porém, pensou em abandonar a vida de mãe de família para compensar seus desejos. A confissão desperta em Bill uma sensação de frenesi.

Após a confissão, o telefonema de uma paciente faz com que o Dr. Bill perambule pela conturbada noite das ruas de Nova York. Sempre com a imagem da traição não consumada da mulher dominando seus pensamentos, o homem procura maneiras de se vingar. Porém, todas as tentativas se frustram.

Em um bar, Bill encontra um pianista, amigo de longa data, que fala a ele algo a respeito de uma espécie de sociedade secreta na qual acontecimentos estranhos acontecem. O pianista toca na tal casa todas as noites, porém, sempre com os olhos vendados. Imediatamente Bill se interessa pelo lugar. Para adentrar nas cerimônias da tal sociedade é necessário usar uma máscara e trajes sociais, além de conhecer a senha de acesso ao local. Bill Harford providencia tudo. Indubitavelmente as máscaras servem de pano de fundo para discutir a capacidade cínica do ser humano.

Em uma das cenas mais envolventes, Harford vai até a loja de fantasias para comprar seu traje. No lugar, depara-se com uma situação estranhíssima: a filha do vendedor estava consumando ato sexual com dois homens muito mais velhos! O pai, por sua vez, permitira a situação, é claro, em troca de dinheiro. O olhar de Harford para o ocorrido, uma confluência de horror e desejo, desperta uma sensação de asco no espectador. Talvez aí Stanley Kubrick atingiu uma de suas metas: revelar a decadência da moral humana. Absolutamente nenhuma personagem está livre de problemas psicológicos.

A partir daí o filme traz à tona as peculiaridades das obras comandadas por Kubrick, nas quais as compreensões estão embutidas em simples atitudes. Ao chegar ao local dos encontros da sociedade, Bill depara-se com um ritual belo e ao mesmo tempo perturbador e aterrorizante. Neste momento aspectos como o voyeurismo são escancarados. Em meio à orgia, em momento algum Bill trai a mulher. Ele age apenas como mero espectador. As cenas de sexo são idealizadas com perfeição. A música, o cenário e a coreografia corroboram para a não-vulgarização das cenas. Valem apenas como subterfúgios que desmascaram os mais profundos instintos e fantasias que dominam qualquer ser humano. Característica inerente à Kubrick.

Não demora muito tempo para que Bill seja descoberto pelos membros da seita. A ameaça de que se ele contasse o que viu a alguém sua família pagaria, leva o homem a um estado de alucinação. A partir daí, muito suspense e neurose passam a dominar a sensual trama.

De olhos bem fechados é o tipo de filme que causa mal-estar no espectador devido à intensidade das emoções representadas. Os momentos de silêncio no qual tudo é dito com o olhar, revelam a entrega total das almas dos atores capitaneados por kubrick. A trilha sonora também reforça o frenesi vivido pelas personagens e aumenta o impacto das seqüências. É o típico filme de Stanley Kubrick, capaz de adentrar profundamente na mentalidade humana, demonstrando com requinte o dualismo fantasia/realidade.


Confira um dos momentos mais marcantes do filme. A entrada de Bill Harford (Tom Cruise) no ritual da polêmica seita! Sequência perfeita! Reparem na trilha e na cenografia:



OBS: texto escrito seguindo os padrões da reforma ortográfica.

4 comentários:

Nobilíssimo Gêiser disse...

Olá, Diuân! Parabéns pelo blog. Sucesso e longevidade é o que eu desejo.

Visite e comece a seguir a página oficial do projeto S.U.P.R.A. Vida Secular! Está feito o convite para conhecer toda a musicalidade do meu modesto sítio.

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Desde já, agradeço por sua atenção!!!

Disciplina de Radiojornalismo disse...

Rapaz, gostei da dica viu, vou procurar saber um pouco mais.

Anônimo disse...

Diuan, vc descrveu o filme com propriedade e ainda revelou as implicações da temática! Vc tem muito talento!

Diuan Feltrin disse...

Muito obrigado a todos os elogios!!