sexta-feira, 8 de abril de 2011

7 de abril de 2011: Ainda resta esperança?


Episódios como o ocorrido no dia 7 de abril na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, ultrapassam qualquer possibilidade de questionamento. Ao me deparar com a notícia, fiquei estático por alguns instantes. Sem perceber vieram as lágrimas, bem lá do fundo, instigadas por um misto de horror, lamento e decepção. Mediante ao caos, pensar com a razão é impossível. Imaginar o que pode levar alguém a cometer chacinas como essa acaba por gerar revolta, induzindo-nos ao pensamento de que “nada justifica”. Principalmente em alguém, como eu, que acredita em possibilidades de mudanças.

Ao ler sobre o perfil do assassino, percebo que ele foi vítima de um sistema excludente. No entanto, dentre as inúmeras possibilidades de escolha que a vida nos apresenta pelo livre arbítrio, escolheu o pior caminho: o da destruição.

Fico imaginando a imensidão da dor que toma conta dessas famílias brasileiras e tento me colocar na condição delas. Mas isso é em vão. A dor dessas pessoas é tamanha que supera qualquer possibilidade de alguém senti-la. Apenas imagino, depositando nas orações e no silêncio minha solidariedade.

como cenas de um filme, vêm a meu pensar imagens do cotidiano. Como teria sido o momento em que essas crianças saíram de casa para irem à escola? Os coraçõezinhos cheios de esperança e vontade de aprender e buscar conhecimento para ser alguém na vida. Os olhos focados na possibilidade de crescimento... O café da manhã em família... O abraço apertado e as bênçãos recebidas dos pais... A expectativa do retorno a casa para contar a família tudo o que foi visto na escola... Imagino a luz que irradiava nos inocentes corações.

Mas a luz foi apagada. Veio o frio, o medo, a incerteza. Os gritos felizes e esperançosos deram lugar a gritos desesperadores. De forma trágica, foi dado um ponto final na trajetória desses pequeninos. Caos. A correria nos corredores da escola, que normalmente é motivada pelo anseio de chegar primeiro a sala de aula, foi substituída por correrias com o fim de salvar a vida e acordar ileso no dia seguinte...

Mas, mediante as trevas, consegui visualizar o brilho de uma luz, presente na solidariedade das pessoas, que não cessaram esforços para dar um pouco de alento às vítimas e familiares.

Em uma reportagem a repórter pergunta a uma garotinha que escapou da tragédia se ela gostaria de voltar à escola no dia seguinte. A menina responde que sim: “Quero fazer faculdade e me tornar bióloga”. Aí está a esperança de ressurreição, a imagem viva de que um novo mundo pode ser possível. Ainda é possível que nasça uma flor...

5 comentários:

Rômulo Gomes disse...

Maravilhoso texto, infeliz história. Infelizmente aconteceu, não era filme norteamericano, nem ensaio pra um deles; era vira real!

Rômulo Gomes

Rafael Lopes disse...

Uma barbárie! Como não se emocionar em meio a tanta covardia? Impossível.

Resta também pedirmos muito a Deus, que abençõe essas famílias que perderam a alegria e a paz num gesto de tamanha brutalidade.

Crianças inocentes ceifadas. Sonhos destruídos e interrogações no ar. Porque?

òtimo texto, Diuân.
Abraço

suavidade disse...

Num dia desses a gente acorda e vê que tudo mudou... que a dor desadoeceu, que o tédio "desatediou", que a solidão desapegou e o que cansa mesmo é não viver nada intensamente...

Roberto de Barros disse...

Diuân, vc é sensasional. Excelente texto. Entretanto, um fato trágico. Essa barbárie que ocorreu em Realengo faz-me pensar: Será que pode-se ter esperança? Pela grande e madura resposta daquela menina, quando perguntada sobre largar a escola, me levou a um trajeto oposto, ou seja, da desesperança à felicidade de que mesmo na existência de tanta crueldade ainda existe BONDADE E SONHOS. Solidarizo-me com os familiares das vítimas de Realengo e espero que eles se mantenham firmes nesse momento de muita dor. Abraços meu amigo!!

Caminhando pelas RUAS disse...

Essa tragédia estará marcada para sempre no coração dessas famílias que perderam suas jóias. Pois, é isso que filho significa para os pais. O bem mais precioso que a vida nós dá.