domingo, 29 de março de 2009

Seres Inacabados

Amigos, ao criar este blog me comprometi a atualizá-lo todos os finais de semana. No entanto, devido a agitação ocasionada pelos trabalhos da faculdade e da Igreja (minhas vidas), não tive tempo de parar para escrever. Mas não deixarei de atualizar! 
Hoje compartilho com vocês um texto escrito por um homem sábio chamado Fábio de Melo. Sacerdote, poeta, músico... Nesta obra prima, ele reflete sobre a condição inacabada do ser humano. Somos seres em constante processo de construção. Acredito que isso é o que dá sentido à vida! Podemos nos aperfeiçoar a cada momento! Bom, agora passo a palavra para o Padre Fábio. Até a próxima!


O inacabado que há em mim

Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. 

Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos. 

Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.

Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil. 

Melhor mesmo é continuar na esperança confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.

Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.


Autor: Padre Fábio de Melo

Um comentário:

Angélica Neri disse...

Nossa! Que texto, hein! Muito bom. Enquanto eu lia, pude notar algo muito profundo, forte e sincero. Realmente, sábias palavras. Abraço Diuân.