domingo, 5 de outubro de 2008

Dica para uma boa leitura

Infância Roubada

Gilberto Dimenstein, atual membro do Conselho Editorial do jornal Folha de S. Paulo, realizou, em 1992, um trabalho que pode ser considerado como uma das maiores representações da competência jornalística. Trata-se do livro Meninas da noite (Ática, 160 páginas, R$ 15,00).
Para compor a obra, o repórter investigou, durante seis meses, a rota do tráfico de meninas no Norte do Brasil. De Belém do Pará até o pequeno município Cuiú-Cuiú, Dimenstein relata cenas chocantes que serviriam de enredo para uma produção hollywoodiana.
Nos seus 11 capítulos, o livro surpreende o leitor ao revelar os requintes de crueldade as quais inocentes meninas são submetidas. Pequenas mulheres que tiveram a infância roubada pelo fantasma da prostituição.
Em sua rota, o autor relata histórias de meninas na faixa etária de 9 a 17 anos que foram iludidas com falsas promessas de ascensão social através de empregos dignos. Muitas destas garotas desconhecem métodos contraceptivos e são vítimas de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. É comum o relato de meninas como Maria Sanches, que diferentemente da maioria das crianças de sua idade, aprendeu a trocar roupa de bebê em seu próprio filho.
São estarrecedores os casos que denotam a decadência da estrutura familiar. Diversas garotas vêem na prostituição a única maneira de escaparem de mães alcoólatras e padrastos opressores. Algumas chegam a relatar os maus tratos sofridos por parte de policiais corruptos e clientes que se recusam a pagar o programa.
Dimenstein, em sua investigação, denuncia inclusive o fato de autoridades estarem diretamente ligadas ao tráfico de meninas. É evidente o objetivo do autor: denunciar os aliciadores e seus comparsas, a fim de resgatar as inocentes pequenas mulheres de seus cativeiros.
No entanto, ao propor a liberdade física das meninas, o autor desconsidera como poderia ser feito o resgate emocional destas pessoas que tiveram parte de suas vidas roubada. Algumas dúvidas ficam pendentes. Como poderiam viver de maneira digna, sendo que depois de libertadas, se encontrariam sozinhas no mundo? A prostituição seria a única solução? Existiriam maneiras de amenizar os traumas? Caberia ao leitor solucionar tais questionamentos.
Meninas da noite é uma história real, narrada por quem, de fato, presenciou o cotidiano de crianças submetidas à escravidão sexual. Um fascinante best seller da vida real. Uma grande reportagem convertida em obra literária capaz de prender a atenção do leitor do primeiro ao último capítulo.

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